Toda cidade é um artefato dinâmico, e, independente de seu porte, está sempre em transformação pois vão se somando diversas camadas de intervenção, seja nas calçadas, ruas, parques, construções, acessos, etc. Independente da pujança ou da velocidade das mudanças, todo centro urbano está sempre em transformação, e é nesse grande palco, as cidades, que todos nós vivemos, moramos, trabalhamos, nos divertimos, nos movemos, etc.
A maioria das pessoas não se dá conta que os centros urbanos moldam nossa forma de viver no nosso cotidiano, formatando assim uma cultura que é própria e específica de cada município. Para ir ao trabalho, por exemplo, precisamos sair de casa, passar por algumas ruas para chegar o nosso destino, e independente do caminho que você escolha, a forma da cidade molda seu comportamento pela geometria das ruas, pela distância a ser percorrida, pelo meio de transporte escolhido.
Está acontecendo uma mudança cultural na mobilidade bem diante dos nossos olhos. Já faz um tempo que a cidade Caruaru tem mudado o perfil de comportamento das pessoas em relação mobilidade urbana e não é de hoje que os grupos de pedal são cada vez maiores e mais frequentes não só aqui, como também em cidades próximas. Naturalmente o contato com a bicicleta voltado ao laser é diferente do usuário de bicicleta como meio de transporte, mas pode ser uma porta de entrada para uma mudança cultural e um desejo de passar a usar a bicicleta no dia-a-dia. Se o caro leitor passar a observar um pouco mais atentamente as ruas da cidade, por onde ele passa rotineiramente, irá perceber que de uns tempos para cá o número de pessoas pedalando é cada vez maior. Seguramente a criação da Via Parque, a primeira e única infraestrutura cicloviária de Caruaru, apesar de alguns pontos críticos a deficiências, impulsionou uma mudança cultural no sentido de impulsionar o uso da bicicleta no cotidiano por uma parte da população.
Temos ouvido cada vez mais relatos de pessoas que passaram a utilizar bicicleta como transporte no dia-a-dia após a implementação da Via Parque, e some-se a isso os sucessivos aumentos nos preços dos combustíveis que sempre cada vez mais leva as pessoas a buscar outras formas de se mover pela cidade, e aqueles que possuem carro, guardando o veículo motorizado mais dias por semana na garagem, usando mais nos finais de semana ou em demandas mais específicas, como fazer feira, ir com a família toda a um mesmo destino, entre outras. Para as necessidades individuais de mobilidade, tem sido atendida por um número cada vez maior de pessoas em bicicleta, e isso também pode ser visto pelas ruas, onde há cada vez mais bicicletas no meio dos carros e nas áreas de estacionamento da cidade.
Não é de hoje que o compartilhamento tem sido uma solução para os traslados urbanos, a exemplo disso os motoristas de aplicativo passaram a atuar em Caruaru desde maio de 2017, justamente na semana de abertura do São João daquele ano, data muito estratégica pelo grande número de pessoas que frequentam a cidade. Hoje existem várias empresas com essa prestação de serviço por aplicativo como: inDriver, 99 Taxi, Maxim, Mobi 66, FemiDriver, para citar algumas.
Um outro fato interessante na mudança da nossa cultura de mobilidade é a realidade dos meios de transporte individuais compartilhados, os patinetes elétricos, e aqui na cidade a iniciativa é da empresa FlipOn e que funciona desde fevereiro desse ano. Inicialmente com algumas estações nos bairros Maurício de Nassau e Universitário, o sistema é muito simples de usar, basta ter celular com internet e crédito virtual em algum banco ou cartão de crédito. O interessado deve baixar o aplicativo, colocar créditos e liberar o acesso ao patinete em uma das muitas estações, na hora que desejar utilizar o patinete elétrico. É possível saber a localização das estações e checar a disponibilidade de patinetes em cada estação, os patinetes podem ser utilizados por toda a cidade, desde que sejam devolvidos após o uso em algumas das estações.
Apesar da restrita área de atuação da empresa, quem circular por esses bairros irá ver que a iniciativa tem ganhado cada vez mais adeptos, mesmo se inicialmente parecem ser usuários experimentais, boa parte muito jovens. O patinete elétrico é uma maneira de locomoção que tem dado certo, e antes mesmo dos patinetes compartilhados, já haviam pessoas andando de patinetes elétricos particulares e até de monociclos elétricos cidade afora. O número de usuários de patinetes e monociclos elétricos ainda é muito reduzido na cidade, mas denuncia que a cultura da mobilidade está em transformação e tem cada vez mais opções de locomoção. Outro viés muito importante para uma boa cultura de mobilidade, mas do que nunca se faz cada vez mais necessária, o viés da atenção e do respeito à diversidade de opções e à liberdade de escolha de cada cidadão. Vale lembrar ainda que quanto mais veículos elétricos circularem por aí, teremos cada vez mais uma cidade menos poluída menos barulhenta e um trânsito mais humanizado.
Rodrigo Lucas
Arquiteto e Urbanista