No domingo (24/3), a Polícia Federal prendeu três agentes públicos suspeitos de terem sido os mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e do motorista dela, Anderson Gomes, em março de 2018. Foram presos o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ), Domingos Brazão, o deputado federal Chiquinho Brazão (União Brasil-RJ) e o delegado Rivaldo Barbosa, ex-chefe de Polícia Civil do Rio de Janeiro.
O blog já havia relatado a impunidade do caso. A pergunta que estava faltando ser respondida, “Quem mandou matar Marielle?” e a motivação do crime, ao que tudo indica foi esclarecido.
A condução do inquérito pela Polícia Federal e o STF revelaram uma trama estarrecedora, a desfaçatez dos agentes públicos em busca de seus interesses espúrios, o domínio da milícia carioca e a contaminação das forças de segurança do estado do Rio de Janeiro.
Infiltrado no PSOL
Domingos Brazão colocou o miliciano Laerte Silva de Lima como infiltrado no PSOL. Ele teria alertado o conselheiro que Marielle, em algumas reuniões comunitárias, pediu para que a população não aderisse a novos loteamentos situados em áreas de milícia.
Sabemos que a tática de infiltrar alguém em algum grupo político não é de hoje. As estratégias para se obter informação são até hoje praticadas das mais variadas formas. Já presenciei em reuniões políticas de esferas estadual e municipal o uso desse artifício como estratégia de desmobilização e para se obter o monopólio da informação, até aí faz parte do jogo político.
Mas utilizar para o crime é a finalidade mais triste que a política brasileira poderia experimentar, beirando regimes totalitários, que se utilizam de espionagem e morte para defender seus interesses ideológicos e políticos.
O uso da política até as últimas consequências
Conforme narrado por Ronnie Lessa, Marielle Franco estaria “atrapalhando os interesses dos irmãos Brazão”, especialmente nas comunidades de Jacarepaguá (RJ). O clã Brazão coordena Jacarepaguá, localizado na zona oeste carioca. A região é dominada por grupos paramilitares. Domingos Frazão já chegou a ser citado na CPI das Milícias, em 2008.
A ingerência do crime organizado na política é uma das principais manchas que o Brasil convive. Os grupos criminosos que encontram guarita na política deixam a população de mãos atadas, onde deveria haver solução do poder público, das forças policiais, no caso em tela ficou demonstrado que a proteção do estado estava abrigando uma quadrilha de bandidos, que faziam uso da política até as últimas consequências.
Onde vamos parar? Até quando a política será utilizada para os fins espúrios do crime organizado? Enquanto Marielle Franco estava comprovadamente, através das interceptações realizadas pela PF, defendendo o interesse da população, alertando sobre loteamentos ilegais que poderiam ferir o direito da população à moradia, do outro lado, vereadores e deputados atropelavam esses direitos.
E nesse caso, não há direita ou esquerda em causa. Precisamos parar de demonizar quem busca legitimamente o bem comum, seja qual for a ideologia. Precisamos sair dos nichos e defender o nosso país que está entregue aos cartéis, lobbys e organizações criminosas.
A Contaminação Processual
O delegado Rivaldo Barbosa, Chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro à época do crime, foi nomeado um dia antes do crime contra Marielle, durante a intervenção federal no Rio de Janeiro em 2018, pelo general Richard Fernandez Nunes, então secretário de Segurança Pública.
No depoimento, o general afirma que a subsecretaria de Inteligência “contraindicou o nome de Rivaldo”, mas que ele manteve a nomeação, “tendo em vista que a contraindicação não se pautava de dados objetivos”.
As diligências apontam que Rivaldo teria recebido de imediato R$ 400 mil pela participação no crime. No entanto, ao mesmo tempo, indicam a movimentação de R$ 7 milhões em uma empresa pertencente à esposa do delegado e é suspeita de estar sendo usada para lavagem de dinheiro em torno do crime. O delegado ainda teria utilizado o cargo para tentar obstruir as investigações em diversas etapas da apuração.
Com tudo isso, fica evidente o motivo de tanta contaminação processual, oriunda da obstrução da investigação, levando a caminhos inconclusivos até então, impedindo se chegar à elucidação dos fatos e as motivações.
A utilização de um cargo tão elevado das forças de segurança do Rio para práticas criminosas é mais uma mancha na história do Brasil e revela a decadência do poder público carioca, que vê de forma endêmica seus agentes contaminados pela corrupção.
Conclusão
A corrupção não tem lado político, ela sangra a todos, políticos bem intencionados, agentes públicos que não coadunam com esse sistema criminoso e principalmente a população. Ou usamos nosso bom senso para defender o que é coerente, ou seremos engolidos por um sistema criminoso e opressor, que em nada representa a maioria da população.
Marielle não está mais presente, mas cada um de nós podemos fazer nossa parte. Não é idealismo. Não é lado político. É necessidade de se fazer o que é correto!