Sem amores políticos e com a responsabilidade de analisar imparcialmente, tenho a missão de escrever esse editorial.
O episódio que roubou a cena, nesta quinta-feira (01/02), na cerimônia de abertura do ano legislativo de 2024, na Assembleia Legislativa do estado de Pernambuco foi um vazamento de áudio. Na ocasião, Álvaro Porto (PSDB), presidente da Alepe e deputado estadual, foi capturado pela tribuna da Assembleia criticando de forma pessoal o pronunciamento da governadora. Em um trecho do áudio, ele chegou a descrever o discurso da governante como “uma m…”. Este episódio foi realmente lamentável.
Todo mundo sabia que o relacionamento dos chefes dos poderes executivo e legislativo já estava ácido, com a judicialização das decisões da Alepe pelo executivo. Os discursos de abertura, tanto da governadora, quanto do presidente do legislativo foram respeitosos, mas tentando dar motivos para se ver quem tinha mais razão. Uma guerra fria, com palavras medidas e razões contadas, que em nada ajuda harmonizar a fragmentação política que estamos vivendo, onde não há consensos.
Desde que me entendo por gente, Pernambuco nunca vivenciou uma crise política entre executivo e legislativo como essa. Nunca tinha ouvido eco para impeachment de governador em nosso estado e nos últimos dias as redes sociais insurgiram a questão. Mas como diz o ditado popular: Quem fala demais perde a razão.
E na política, propositalmente ou não, aquilo que se torna um fato potencializa as crises. O áudio vazado, intencionalmente ou não, tornou-se um ato de violência política.
Sim! Foi violência política.
O autor contemporâneo, Timothy Snyder, traduz que “a vida é política, não porque o mundo se importa com como você se sente, mas porque o mundo reage ao que você faz”. Nessa perspectiva, entende-se que todas as nossas ações e inações são, essencialmente, atos políticos, ainda mais estando sob posse da presidência do legislativo pernambucano, atribuindo a cada indivíduo a obrigação de agir de maneira deliberada e consciente.
Poderíamos estar aqui debatendo os pontos de crise institucional entre os poderes, a forma como os atores políticos governam, expor fraquezas gerenciais, abordar a dura realidade que os serviços públicos no estado de Pernambuco se encontram. Mas um ato impensado gerou legalidade para uma justa defesa do Governo de Pernambuco e de seus aliados, e abriu precedentes interpretativos para violência de gênero.
A repercussão disso faz parte de jogo político, partidos da base de Raquel saem em defesa da governadora, os apoiadores são inflamados e provocam uma contrainsurgência, resultado de um ato impensado, que poderá refletir em traumas maiores na política. A conferir.
Foto: Roberto Soares/Alepe