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Um olho no Padre

É pouco desejável hoje viver sem nenhum contato com tecnologias, redes sociais e demais facilidades que os nossos celulares nos oferecem atualmente.

Cada dia mais áreas de atuação profissional se apropriam de tecnologias da informação para o cotidiano, das mais tradicionais às mais rudimentares, passando também pelas profissões mais recentes. E ainda sobre profissões, as tecnologias e seus desdobramentos geraram novas formas de renda, como os aplicativos de transporte e cada vez mais pessoas que dedicam seu tempo, e são remuneradas pelas mais diferentes plataformas, incorporando títulos como: youtubers, instagramers, tiktokers e por aí vai.

Influenciadores digitais, formas de entretenimento e aplicativos de comunicação estão presentes cada vez mais nas nossas rotinas, seja por motivo de lazer, de comunicação ou de trabalho, de maneira que muitas vezes nos conectamos ao mundo virtual assim que acordamos, durante a jornada de trabalho e ainda nos últimos minutos de cada dia. Estudos há alguns anos já demostram que essa carga de virtualidade e toda essa sincronização de passarmos o dia logados acaba trazendo malefícios como ansiedade, depressão, isolamento social e outras síndromes que ainda iremos descobrir futuramente enquanto aldeia global.

Equilíbrio é sempre uma palavra muito poderosa para mantermos nossa sanidade mental com as configurações atualizadas e para moderarmos nossas vivências do cotidiano on-line e off-line. Deixando um pouco de lado o futuro, muitas são as demandas do hoje na relação com esse novo mundo cibernético e tenho certeza que a maioria de nós tem se deparado com uma delas toda semana no caminho de casa ao trabalho: a falta de atenção ao volante por parte de muitos motoristas, incluindo nós mesmos… Presenciamos cada vez mais carros que não se movem quando o semáforo abre, veículos mudando de faixa e invadindo a contramão por estarem com o telefone na mão enquanto dirigem. O pensamento é sempre aquele de que “é bem rapidinho” ou apenas para dar o play num áudio recém-chegado no whatsapp e pensou que não estamos freando bruscamente porque o carro da frente diminuiu a velocidade e a gente não percebeu pois baixou a vista para ver a tela do celular. Se você já vivenciou em primeira pessoa algumas dessas distrações, passou da hora de repensar suas atitudes ao volante.

Não vamos esperar um acidente provocado por nossa desatenção para entendermos que a vida off-line é sempre mais importante, e que colocamos em risco nossa vida e a dos outros com esse comportamento. Será que aquela resposta precisa ser dada realmente naquele exato segundo e que a sua vida vale menos que aquela informação? Quando há uma urgência de fato na comunicação, o que nos impede de estacionarmos o carro para responder ou mesmo fazer uma ligação? Acredito que o planeta esteja formando uma geração muito imediatista e ansiosa pela velocidade em tempo real com que as informações circulam por nós, mas que ao mesmo tempo todo mundo perde oportunidades cotidianas de viver a vida de verdade, com pessoas reais que estão ao nosso lado e optamos por direcionar nosso olhar para as telas.

Certamente os profissionais de saúde dos plantões nos hospitais atendem cada vez mais casos de acidentados vítimas da falta de atenção ao volante e cada vez mais há pessoas mutiladas física e emocionalmente ao nosso redor. Preferimos acreditar que a humanidade irá recalcular a rota e modificar algumas posturas, mas irá manter-se sim conectada em alguma medida, pois não dá para viver razoavelmente bem sem nenhum tipo de tecnologia ou conexão virtual. Já ouvi de várias fontes diversas que precisamos preservar a capacidade de se manter focados no presente em vários momentos do dia e quando multitarefamos, ou fracionamos nossa atenção entre duas ou mais atividades, certamente uma delas são será realizada com êxito, podendo inclusive não serem todas elas concluídas. Aquela frase clássica que muita gente dizia estar “com um olho no padre e outro na missa” nunca foi tão perigosa como agora, principalmente se você está ao volante e usando seu celular, colocando muitas vidas em risco, principalmente a sua.

Rodrigo Lucas
Arquiteto e Urbanista
@rodrigolucasarquitetura

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