Desde o início da pandemia de covid, toda a sociedade foi obrigada a readequar-se a novos padrões, migrando boa parte das atividades e trabalhos se não para um modelo remoto, ao menos para uma abordagem híbrida. Ao longo de mais de 2 anos de pandemia, vimos artistas fazendo das lives verdadeiros palcos digitais e o STF adotar um plenário virtual, mas algo, em especial, me chamou a atenção.
Com a pandemia e semanas de isolamento e lockdowns, as pessaos estavam sedentas por algo que as entretecem, estavam secas para consumir conteúdo, e foi nesse cenário pandêmico e insalubre de isolamento que surgiram os podcasts. É verdade que podcasts não são uma novidade, mas a pandemia os levou a outro patamar. No cenário pré-pandemia era difícil encontrar um colega ou amigo que escutasse assiduamente algum podcast, seja sobre tecnologia ou até mesmo sobre vida fitness. Hoje, no entanto, o cenário é outro.
No atual momento em que nos encontramos, os podcasts já são uma unanimidade, algo relativamente trivial, e não mais causa estranheza em afirmar que se acompanha o podcast de fulano ou cicrano. O ponto é que esses programas digitais, hoje difundidos nas mais diversas plataformas, foram alçados a programas de massa, com um alcance monumental, movimentando audiências altíssimas. Com tamanha musculatura, chega aos apresentadores desses programas duas questões: 1) A responsabilidade pelo que se diz e se debate em programas de tamanha escala 2) Em ano eleitoral, dificilmente esses podcasts irão conseguir se abster de debates e questões políticas.
Após o caso Monark, ocorrido na semana passada, muito se debateu sobre a responsabilidade que os apresentadores (hosts) tem para com sua audiência, mas como essa é uma coluna sobre política, nos ateremos ao ponto 2. Que 2022 promete uma eleição diferente, com uma alta penetração do digital na forma de se viver uma eleição não é novidade, no entanto, com o crescimento meteórico dos podcasts, estamos por vivenciar um novo local de debate.
Em 2018 as eleições já foram intensamente digitais, no entanto ainda havia uma grande pulverização dos locais onde o debate ocorria. Na realidade, vimos as eleições se darem por meio de grupos de whasapp, memes virais de trechos de entrevistas de algum candidato e também a massificação no envio de mensagem com conteúdos fundamentalmente políticos. De fato há uma grande chance de haver uma repetição desses acontecimentos, mas com os podcasts, há uma grande probabilidade de haver uma readequação dos moldes.
Quero dizer que atualmente já não é difícil ver candidatos e políticos sendo convidados a participarem de episódios de podcasts e, para um cenário eleitoral, será particularmente curioso perceber que os políticos, em 2022, terão que se adequar as novas regras do jogo, sob pena de ficarem de fora da corrida eleitoral. O próprio Flow Podcast, um dos principais nomes dentro desse mercado, já tem episódios em que entrevistas figuras como Sergio Moro, Ciro Gomes, João Doria, João Amoêdo.
A partir de 2022, para que as propostas e os discursos dos candidatos possam ter penetração no eleitorado, a política terá que ser feita em streaming. Para que as propostas e os debates possam alcançar toda a capilaridade do eleitorado, desde do voto evangélico, até os jovens gamers, precisará haver essa rendição as novas regras do marketing político. Atualmente, aqueles que somente contam com os veículos de comunicação tradicionais, verão suas candidaturas naufragarem, por não fazerem a “política de streming”, indo a podcasts e programas digitais com grande alcance e audiência.
Ao final, parece que o século XXI finalmente chegou para a política.
Pedro Henrique Lima
Graduando em Direito, Pesquisador do LABÔ (PUC-SP) e Estudioso da Democracia.