Convido você leitor a fazer uma experiência um pouco diferente do que a maioria das pessoas está acostumada a fazer. Quando tive essa experiência pela primeira vez me fez muito bem! Você já tentou ir para o trabalho ou sair de sua casa para resolver algo por perto caminhando?
Ao sair de casa caminhando podemos observar uma série de detalhes na nossa cidade que não percebemos quando nos deslocamos estando dentro de um carro ou no transporte público, seja pela velocidade, seja por estarmos “encaixotados” dentro dos nossos veículos.
Se deslocar pelo seu bairro andando é vivenciar o espaço público da forma mais autêntica, e percorrendo a cidade dessa maneira passamos a nos relacionar com uma série de itens que compõem os sistema viário do pedestre, que são as calçadas. As calçadas por sua vez são “o primeiro degrau da cidadania”, como diz o colega de profissão, arquiteto e urbanista, Francisco Cunha.
Assim como os espaços públicos de uma determinada cidade, as calçadas também denunciam o nível de cidadania daquela sociedade, das pessoas que vivem naquele lugar, e quanto mais difícil de circular pelas calçadas, menos caminhável é a cidade. A caminhabilidade, do inglês walkability, é um conceito-chave para analisar, interpretar e experimentar quão civilizada é uma cidade.
Para além de se relacionar com a cidade, locomover-se com as próprias pernas por uma localidade é uma oportunidade de convívio social, reencontrar conhecidos, saudar desconhecidos, e outras tantas formas de interação. Quantas vezes você conseguiu dar um “oi” para alguém enquanto transitava de carro por aí? É inegável que quando estamos “encapsulados” dentro de um carro de passeio, interagimos muito menos com as pessoas e com o espaço urbano que está ao nosso redor, e vale salientar que o espaço urbano é nosso, de todos nós. Percorrer as calçadas de um município andando nos conecta muito mais com qualquer realidade urbana.
Se você, prezado leitor, tem medo de sair andando por onde você mora com medo de ser assaltado, te digo, para a sua surpresa, que a sensação de segurança é sempre mais alardeada e influenciadora sobre cada um de nós do que a real condição de segurança de qualquer lugar onde se possa morar. É um grande engano achar que um grande número de policiais deixam um local mais seguro, o que torna um espaço público seguro de fato é a apropriação desse espaço por parte das pessoas. Quanto mais pessoas circularem por uma localidade, mais interações, mais controle social, mais agradável e seguro se torna andar e permanecer nesse determinado lugar.
Mesmo sabendo que as pessoas é que dão vida aos espaços urbanos coletivos, as calçadas, por sua vez, precisam ser convidativas para os pedestres. Claro! A realidade da grande maioria das cidades do país, e provavelmente do mundo inteiro, não são das melhores para se caminhar por elas. Não só os passeios públicos, mas também as praças e parques e demais locais de domínio coletivo precisam ser devidamente planejadas e equipadas adequadamente para dar suporte a essa vivência compartilhada.
Talvez você não se tenha dado conta antes de ler esse texto, mas os espaços públicos tem uma série de mobiliários e equipamentos como lixeiras, placas de sinalização com nomes de ruas, bancos de praça, sinalização com direcionamentos para o transito de automóveis e de pessoas. Infraestruturalmente falando os passeios públicos precisam de arborização, iluminação artificial, rampas, drenagem de águas pluviais, limpeza, manutenção e acessibilidade, para citar apenas alguns deles.
Parando para pensar um pouco, conceitualmente, os passeios públicos também são o local onde ocorre uma intersecção entre os espaços públicos e os privados, pois é por cima dela que veículos motorizados ou não, saem de dentro dos lotes residenciais ou comerciais e vão para as ruas e avenidas. Essa superfície de intersecção privativo versus coletivo é, ou deveria ser, prioridade absoluta para quem circula caminhando.
Rodrigo Lucas
Arquiteto e urbanista, sócio do escritório Rodrigo Lucas Arquitetura e Urbanidade, com passagens pelo serviço público nas prefeituras de Recife e Caruaru. Professor da Escola Cívitas, Escola de Cidadania.
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Sou fã incondicional desse arquiteto!