Bolsonaro deseja reeleger-se, quanto a isso, nenhuma surpresa. Desde o início de seu mandato, o atual presidente não teve pudor em esconder suas vontades pela reeleição presidencial, porém, há alguns meses do sonhado pleito, há reais chances do atual mandatário ver se esvair por entre seus dedos seu tão sonhado desejo.
No Brasil não é novo que haja uma grande gama de candidatos em eleições presidenciais, afinal de contas estamos falando de uma país profundamente multifacetado. 2022 não poderia ser diferente. Por mais que haja ainda certos entusiasmos com àqueles candidatos ditos de terceira via, não houve, até agora, nada que pudesse deixar claro uma real chance de eventuais candidatos dessa terceira via decolarem com pujança.
Há Moro, nome conhecido, mas ainda lhe falta tato político, além de uma real habilidade em movimentar massas. Há Ciro Gomes, que mudou o mote de sua campanha para: Ciro: A rebeldia da esperança, uma forma de tornar mais palatável seu temperamento esquentado. Ele tenta alcançar um público mais jovem, mas no final das contas, apesar de experiente e relativamente conhecido, ainda se encontra estagnado nas pesquisas. Ainda poderíamos falar do Pacheco, Tabet, Janones ou Vieira, mas com percentuais diminutos nas pesquisas, nada teríamos a acrescentar.
Infelizmente, nesse cenário, continuámos reféns do binômio Lula-Bolsonaro. O ponto, no entanto, é que nos últimos meses o cenário tem se apresentado cada vez mais favorável ao ex-presidente Lula. Com especulações em torno de uma vitória ainda em primeiro turno, Lula tem se aproveitado, de maneira irônica, de um movimento muito semelhante àquele ocorrido em 2018, quando Jair Bolsonaro foi alçado a presidente.
Obviamente que a eleição de 2018 foi singular e teve por mote: indignação. Bolsonaro foi eleito por representar uma solução para combater o petismo, naquele momento, no fundo do poço, a elite política (establishment) e, é claro, a corrupção. 2018 foi o ano de votar em qualquer figura que fosse contra o sistema, que se apresentasse contrário a deterioração política que vinha ocorrendo no Brasil desde o impeachment da ex-presidente Dilma.
É certo que a eleição de 2022 não trará metade dessa carga, no entanto, após escândalos de corrupção envolvendo a família Bolsonaro, CPI da COVID, decaimento da economia, negacionismo e muitos mortos por covid depois, talvez estejamos diante de um clima similar. Com o enfraquecimento da terceira via, sobra, aos eleitores, votar ou em Lula ou em Bolsonaro e, com base nas pesquisas de opinião, com as altíssimas taxas de rejeição ao Bolsonaro, podemos vislumbrar o mesmo efeito que elegeu o atual presidente, tirá-lo do cargo.
Advogo, nessas circunstâncias, que o espírito antissistema que elegeu Jair Bolsonaro presidente em 2018, como uma forma de retaliação a elite presente na máquina pública, pode voltar-se contra ele e, ao invés de auxiliá-lo, pode reverter sua altíssima reprovação em votos úteis para o ex-presidente Lula. Com os atuais indicadores (economia, popularidade, desemprego e pobreza) e o desapontante desempenho da terceira via, poderemos ver um dos polos da polarização (Lula), surfar no próprio discurso antissistema e agrupar consigo segmentos da sociedade que possam estar insatisfeitos com o atual governo.
Como evidenciam as pesquisas, até mesmo entre os evangélicos, Lula tem abocanhado parte do eleitorado. Ao Bolsonaro, cabe reagrupar, buscar apoio e pensar, caso deseje outro vise, em um nome de peso que possa auxiliá-lo em um eventual segundo turno. Lula tem buscado construir uma campanha ponderada, dialogando com diversos segmentos e construindo pontes. No ritmo que se vai, não seria uma surpresa vermos Lula eleito como candidato antissistema, sendo, nesse caso, uma voz suficientemente forte para juntar em sua campanha todos aqueles que repudiam e rejeitam o atual mandatário da presidência.
Pedro Henrique Lima
Graduando em Direito, Pesquisador do LABÔ (PUC-SP) e Estudioso da Democracia.