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O fator Moro: O que muda com a chegada do ex-juiz ao pleito?

Não há dúvidas de que a eleição do ano que há de vir será singular, principalmente levando em conta a polarização que será causada por dois atores (Lula e Bolsonaro) com capacidade de movimentar grandes massas. No entanto, um questionamento tem sido comum nos últimos meses: Será possível tomar outro caminho para além dessa dicotomia? Será que uma terceira via conseguirá tomar musculatura para furar a bolha?

É fato que a chamada terceira via, protagonizada por personagens dos mais diversos partidos, desde Ciro Gomes a João Doria, tem dividido opiniões quanto à sua real viabilidade, mas, nos últimos meses, uma personalidade em específico tem chamado atenção pelo barulho que tem causado nesse espaço: Sérgio Moro.

Desde que anunciou sua filiação ao PODEMOS e, posteriormente, sua pré-candidatura a presidência, o ex-juiz federal Sérgio Moro tem atraído grandes holofotes para si. Ainda que ambígua, a candidatura do ex-juiz talvez (isso por que, na política, tudo pode mudar de uma hora para outra) seja, no momento, dentre todos os candidatos da terceira via, a candidatura mais viável e com maior potencial de crescimento. Desde sua filiação ao PODEMOS, o ex-magistrado já soma cerca de 13.7% das intenções de votos, segundo pesquisa realizada pelo Atlas e, de acordo com todos os indícios, somente tende a crescer.

Alocado mais a direita do espectro político, Sérgio Moro terá um longo caminho a percorrer até o dia das eleições, pois, em um cenário recheado de candidatos, muitos são os desafios. É certo que os eleitores fieis ao ex-presidente petista não irão ceder as incursões do ex-juiz, no entanto, quanto ao eleitorado Bolsonarista, não se pode falar o mesmo. Ainda que tenham discursos diferentes quanto à narrativa e ao tom com que essas falas são declaradas, tanto o agora candidato Sérgio Moro como o presidente Jair Bolsonaro tenderão, no ano de que vem, a se digladiarem pelos mesmos eleitores.

Mesmo que não seja tão radical quanto seu rival, o ex-juiz Moro tenderá a surfar na mesma onda que elegeu Bolsonaro em 2018, ou seja, poderemos ver novamente discursos amplamente fundamentados em ideias lavajatistas, visto que Sérgio Moro é o baluarte da operação Lava-jato. Outro ponto sensível, será quanto aos pensamentos liberais. Nos últimos tempos Moro já tem dado acenos a grupos que foram, em 2018, fundamentais para os eleitores de perfil mais à direita, no caso, o Movimento Brasil Livre (MBL), Livres e do próprio Instituto Mises Brasil.

No mesmo sentido, ainda que de maneira tímida, pode ser observado uma aproximação do ex-juiz a figuras emblemáticas no campo das forças armadas, provenientes de dissidências do movimento bolsonarista. Nesse caso, Moro tem se aproximado do General Carlos Alberto dos Santos Cruz (ex-ministro da Secretaria de Governo), bem como do também militar Otávio Rego Barros (ex-Porta Voz da presidência), movimentações que, ainda que diminutas, buscam deixar uma linha de diálogo aberta com àqueles que, eventualmente, não desejem apoiar o atual presidente. Além disso, tenderemos a ver batalhas árduas no campo da segurança pública, o que implica em discutir o porte e a posse de armas.

O ponto nevrálgico é que, diferente de outros candidatos, Moro tenderá a crescer nas pesquisas absorvendo o eleitorado bolsonarista dissidente e àqueles que não votam nem em Lula nem em Bolsonaro. Saliento esse segundo ponto pois, apesar de ter uma batalha particular com o atual presidente, até por ser seu ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro também travará embates importantes com outras figuras da terceira via. A título de exemplo, desde sua filiação ao PODEMOS, Moro já saiu da casa de 8% para 13.7% das intenções de voto, fazendo campanhas como a do pedetista Ciro Gomes não necessariamente derreter, mas, ao menos, estagnar na casa dos 8%, número que não aumenta desde setembro de 2021.

Outro ponto que deve ser destacado é que, apesar de estar filiado ao PODEMOS, partido de tamanho médio, o ex-juiz tem mantido diálogos, junto ao seu partido, com a nova sigla fundada a partir da fusão do DEM com o PSL (União Brasil). Segundo cálculos, uma união com um partido de tamanha envergadura poderia alavancar a candidatura do ex-juiz ao mesmo patamar do ex-presidente Lula e do atual presidente Bolsonaro, em termos de tempo de TV, fundo eleitoral e verba partidária, ao imprescindível, afinal de contas o pleito de 2022 tem tudo para ser uma fusão entre campanhas digitais e à moda antiga.

Ao final, a chegada de Sérgio Moro ao pleito abalou os cálculos para o ano que vem, ao mesmo tempo que deu, para àqueles esperançosos com uma terceira via, uma luz no final do túnel. De fato, daqui para o ano que vem ainda há muita água para rolar debaixo dessa ponte, mas, com base nos acontecimentos recentes, não me surpreenderia ver um candidato como o Sérgio Moro disputando o 2° turno das eleições de 2022.

Pedro Henrique Lima 
Graduando em Direito, Pesquisador do LABÔ (PUC-SP) e Estudioso da Democracia.

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