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O beija mãos de Lula em Pernambuco

Pernambuco recebeu nesta semana a visita pré-eleitoral do ex-presidente e possível pré-candidato, Luís Inácio Lula da Silva do PT, o qual, chegando em um avião particular sem tanta presença de apoiadores locais, foi visivelmente acompanhado pelos remanescentes petistas históricos, a deputada federal paranaense Gleisi Hoffmann, atual presidente nacional da legenda, bem como o deputado federal José Guimarães do PT Ceará, que ficou nacionalmente conhecido no período do mensalão por ter tido seu assessor flagrado em 2005 com dinheiro escondido nas cuecas. Time petista pronto para o “beija mãos” político que se veria nos dias seguintes.

Ao contrário de Bolsonaro, que na qualidade de presidente acaba tendo trânsito maior por todo o país junto com seus ministros, o Lula segue a agenda de pré-candidatura similar ao que vem sendo feito por Eduardo Leite do PSDB e Ciro Gomes do PDT, todos na busca de firmar alianças e negociações, que vão desde debater a eleição presidencial até a fazer as difíceis costuras de interesse estaduais daqueles que desejam os espaços para senado e governo do estado.

Ocorre que Lula, como ex-presidente, tem um caminho bem menor a construir eleitoralmente no que se refere à sua imagem junto à população, assim, sua passagem em Pernambuco tem sido marcada pela reverência, temor e contemplação de várias lideranças políticas do estado, o que se viu com a pronta recepção dada a ele pelo seu ex-ministro e atual senador petista Humberto Costa, assim como Governador Paulo Câmara, o Prefeito do Recife João Campos do PSB, a cúpula do Partido Comunista do Brasil (PC do B) no estado puxada pela Vice-Governadora Luciana Santos, além de deputados estaduais, federais e vereadores do PT e do PSOL.

O chamado “beija mãos” é uma prática histórica, normalmente praticada no meio religioso como um gesto de respeito por aqueles que teriam sobre eles uma “unção” especial, como um padre, um bispo, pai ou mãe de santo, o que também é percebido em algumas famílias com as pessoas mais velhas, como se, sobre eles existisse o potencial de abençoar a vida daqueles que os veneram e beijam suas mãos, recebendo um “Deus te abençoe minha filha/filho”, ou seja, o “beja mãos” além de demonstrar admiração, traz consigo uma ambição abençoadora, onde, se for para encarar a vida, que eu seja abençoado por aqueles que assim podem abençoar.

Em Pernambuco, o ex-presidente Lula promove de certa forma esse “beija-mãos”, na medida em que, não obstante ainda ser acusado por crimes de corrupção e improbidade em processos que voltaram à estaca zero por ordem do STF e de trazer ao seu lado acompanhantes que remetem ao petismo dos períodos de mensalão, lava-jato e do governo Dilma, Lula carrega consigo resquícios de sua popularidade histórica entre muitos pernambucanos, força política que não é ignorada pelos demais políticos do estado não ligados à esquerda regular, inclusive entre aqueles que gozam ou gozavam de espaço no governo bolsonarista, seja através de cargos ou compondo a base do atual presidente no congresso nacional, todos buscaram uma agenda com Lula, mesmo que seja para uma simples fotografia.

Na visita lulista, destacamos encontros com André de Paula do PSD, que além de já ter sido oposição ao ex-presidente quando era do DEM, é o atual 2º vice-presidente da Câmara dos Deputados, estava como base de Bolsonaro, mas foi à mesa com Lula, muitos apontam que objetivando a “benção” articulatória para vaga de senador. De igual forma, foi notório o encontro de Lula com Silvio Costa (pai), antigo aliado do PT, junto com seu filho, o deputado estadual João Paulo Costa do partido “Podemos”, que na Câmara do Recife é liderado por um bolsonarista de carteirinha, o Pastor Júnior Tércio, mesmo partido que lançou a Delegada Patrícia Domingues e que posteriormente deu suporte para Marília Arraes no segundo turno Recifense com a chancela do deputado federal Ricardo Teobaldo.

Silvio Costa Filho também marcou seu encontro em busca da benção de Lula, sendo um deputado federal que mostra equilíbrio no Republicanos como base do governo Bolsonaro, já tendo até abrigado no partido o Senador Flávio Bolsonaro e Deputado Carlos Bolsonaro, atualmente divide a bancada federal do republicanos pernambucano com o deputado Ossesio Silva, e em Pernambuco dá sustentação ao governo Paulo Câmara, mesmo tendo como único deputado estadual na ALEPE, Willian Brigido, oposição ao PSB, William e Ossesio ligados ao segmento religioso e com falas de apoio ao bolsonarismo.

O PSOL é outro partido a tomar a benção, e que, apesar de ser esquerda declarada, é um grande crítico do PSB em Pernambuco, mas possui um fanatismo lulista marcado por selfies e declarações emotivas que certamente desaguará em um apoio presidencial que pode mais uma vez manter o governo do estado nos braços dos psbistas que eles tanto atacam. Aos que ainda não “beijaram as mãos” lulistas temos o Progressistas com uma delicada posição ante a presença de Ciro Nogueira na Casa Civil de Bolsonaro, mas que nunca relutam em se manter no poder, seja quem for o presidente, e o MDB de Temer e Raul Henry, com seu dilema junto à família Coelho em Petrolina, grupos que sabem da dificuldade que terão de apresentar para presidente qualquer candidato em oposição a Lula.

Temos uma verdadeira salada de interesses no jogo político pernambucano, partidos revelando suas fragilidades de coerência frente aos interesses de seus jogadores, onde os políticos mantêm-se bolsonaristas por conveniência de espaços de poder, mas que prontamente alguns se desvinculam ou assumem neutralidade para não perder o voto do possível eleitorado lulista. Vemos no “beija mãos” uma prática familiar, religiosa ou até entre mafiosos junto aos “Capos”, mas que na política significa, ir à mesa, baixar a cabeça, ignorar acusações e negociar quais os espaços que levarão cada um a se manter no poder.

Caio Sousa

Advogado, Professor Universitário, Mestre em Ciências Jurídico Políticas pela Universidade de Lisboa, Especialista em Direito Municipal, Pesquisador do Labô – PUC/SP.

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