Tenente-coronel diz que, em reunião com chefes das Forças Armadas, foi apresentada uma minuta de golpe
Em novo depoimento à Polícia Federal, o ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid, reforçou a existência de articulações para minar o resultado das eleições e tentar manter no poder Jair Bolsonaro, mesmo após ele ser derrotado no pleito pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O depoimento durou cerca de 9 horas.
De acordo com fontes ligadas às investigações, Cid afirmou que não participou de uma reunião de teor golpista realizada por Bolsonaro com ministros de Estado de seu governo em 2022. Mas destacou que se encontrou com os então comandantes do Exército, Marco Antônio Freire Gomes; da Marinha, Almir Garnier; e da Aeronáutica, Baptista Junior. Disse também que, na ocasião, foi apresentado a uma minuta golpista, que invalidaria o resultado das eleições e prenderia autoridades, como o ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Ele reforçou as declarações anteriores, nas quais destacou ter sido informado de que Bolsonaro pressionou comandantes para embarcarem na tentativa de golpe e detalhou a operacionalização do esquema.
Com o acordo de delação firmado com a PF, em setembro passado, Cid tem levado aos investigadores informações sobre a trama golpista deflagrada no final de 2022 por integrantes do Poder Executivo, políticos de outros setores e por militares das Forças Armadas.
No curso das apurações, as equipes da PF identificaram versões e informações divergentes entre os detalhes dados pelo tenente-coronel e outras pessoas ouvidas no inquérito, sejam como investigadas, sejam como testemunhas.
No dia 22 do mês passado, os investigadores ouviram 23 pessoas, em Brasília, no Rio de Janeiro, em São Paulo, no Paraná, em Minas Gerais, em Mato Grosso do Sul e no Espírito Santo. Elas são acusadas de envolvimento com uma organização criminosa que teria sido montada para atacar as instituições.
Porém, dos 23 convocados para depor, 16 deles ficaram em silêncio. Entre os que se recusaram a falar, estão Bolsonaro, que alega não ter tido acesso a todos os documentos do inquérito; e o general Augusto Heleno, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).
Os ex-ministros da Defesa Walter Braga Netto e Paulo Sérgio Nogueira e o ex-comandante da Marinha Almir Garnier Santos também optaram por não responder aos questionamentos. Como eles figuram como investigados, não são obrigados a falar.
A previsão é de que o inquérito sobre o caso seja encerrado em junho deste ano. A partir daí, caso tenha anuência da Procuradoria-Geral da República (PGR) — e a expectativa é de que isso ocorra —, o Supremo Tribunal Federal (STF) pode abrir ação penal e iniciar o julgamento dos envolvidos. Em caso de condenação, as penas podem ser definidas até o fim do ano.
Fonte: Correio Braziliense