Um comercial de uma das maiores marcas de beleza e cuidado me trouxe uma grande reflexão: por que não falamos sobre as tentantes? A proposta é de acolhimento e cuidado, mas esse assunto tem uma barreira imensa em nossa sociedade. Falar de dor, sobre planos feitos e refeitos, sobre expectativas e decepções de mais um mês ou um ano correndo contra o relógio biológico e o tempo que não colabora com o desejo de ser mãe.
Dá um nó na garganta começar a pensar no que escrever pois já estive em várias fases dessas maternidades. Pois é, tentante também é mãe, pois já vivencia as pressões de ser mesmo antes de conceber, as angústias, o medo, a ansiedade, o esperar e o esperançar. A cada ciclo um turbilhão de sentimentos e movimentos milimetricamente calculados para que não seja mais um não, mais uma vez, mais um mês.
Quando e como as cobranças impactam na saúde da mulher, física e mentalmente? Relatos abafados em corredores de espera de clínicas e laboratórios, exames e consultas infindas e desgastantes. E mais uma vez, o sinal vermelho alerta sobre a hora de tentar mais uma vez. A maioria das mulheres que já passou por essas dores e desafios o faz em silêncio, sem apoio, se culpando por não conseguir. Quantas alucinam um problema que sequer existe realmente. E quando existe, sobre quais as possibilidades de solução. Mas o diálogo é sempre pequeno, discreto e de uma solitude dilacerante.
Fazendo uma reflexão sobre as dificuldades e desafios relacionados a essa cobrança sobre as tentantes, há que se observar uma complexa teia de questões emocionais, sociais e éticas que trazem profundo impacto na vida das mulheres. Há que se observar ainda que existe uma cobrança sobre essas mulheres através das expectativas sociais e familiares que reforçam ainda a ideia de uma obrigação ou uma essencialidade do ser feminino, gerando por vezes frustrações e sensação de inadequação, o que dificulta ainda mais o bem estar emocional necessário para uma gravidez tranquila e saudável.
É necessária uma reflexão mais empática e mais acolhedora que possa abranger e valorizar a autonomia dessas mulheres, reconhecendo as dificuldades que são enfrentadas e promovendo uma cultura de respeito e escolhas individuais, gerando uma liberdade com relação às cobranças e julgamentos. Esse comportamento gera um ambiente propício ao diálogo, onde as mulheres teriam mais liberdade de falar abertamente sobre seus anseios, dúvidas e desejos.
Se você não tem filhos, ou já tem filhos, já quis ou desistiu, sabe a dor da espera, sabe o quanto pode ser devastador tentar e não conseguir, saber que nem sempre o tempo está a nosso favor e nem tudo é na hora que desejamos. Saiba que você não está sozinha: muitas de nós mulheres já fomos ou somos tentantes.
Por Luana Marabuco
Advogada; Pós-Graduada em Direito Público e Gestão de Pessoas; e Secretária da Mulher de Caruaru-PE.