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Esquerda e Direita contra Bolsonaro? Análise das manifestações pelo impeachment do presidente.

Os dias 23 e 24 de janeiro de 2021 foram marcados, não só pela prova do ENEM para milhões de estudantes, mas também por protestos contra o Presidente Jair Bolsonaro, manifestações bem diferentes das de outrora, agora restritas pelas limitações impostas pela pandemia, mas, seja na modalidade de carreata ou em tradicionais discursos em carros de som, algo chamou atenção, as convocações para ir às ruas, os gritos e bandeiras de impeachment partiram de militantes da esquerda e de direita.  

Não é novidade que, a cada novo presidente os grupos que se apresentam como oposição, comumente são os primeiros a organizar protestos ou a requerer abertura de processo de impeachment (saída do presidente antes da hora), sempre com expressões como “Fora Lula” em meio às acusações/condenações de membros de seu governo no caso “mensalão”, ou “Fora Dilma” com o cenário de crise e calor da Lava Jato, bem como o “Fora Temer” por ser o vice-presidente que articulou com o congresso a saída da presidente, chamado inclusive de “golpista”.

Já no caso “Fora Bolsonaro”, observamos uma esquerda formada por partidos como PT, PC do B, PSOL, PDT, Rede, os quais têm se revelando uma oposição que muito grita (esse é o papel), mas que pouco é ouvida, sem força no congresso, com pequena representatividade nos estados, e claramente sem o antigo poder de articulação das massas, fechando-se e pregando pautas de maior carga ideológica em contraposição às ideologias bolsonaristas, mas que não conseguem agregar insatisfeitos nem focar nos problemas práticos a nível nacional.

A novidade reside na “oposição” de direita criada pela inabilidade política do próprio presidente nos últimos 2 anos, onde grupos como “Vem pra Rua” ou “MBL”, que deram suporte político à campanha de 2018, agora passaram a adotar uma postura crítica e de manifestações também pró impeachment, revelando sintomas de um governo federal que, além de todas as suas deficiências operacionais na formulação e execução de políticas públicas, permanece em constante estado de campanha eleitoral, usa de “panfletagem” ideológica para manter parcela de seus apoiadores, e recorre à política mais tradicional para garantir sua governabilidade.

Não podemos dizer que os protestos de esquerda e de grupos da direita representam qualquer movimento similar ao que ocorreu nos Estados Unidos, para os americanos, além do foco normalmente ser apenas entre democratas e republicanos, já é comum a união de diversos grupos com visão política diferente ao redor de um nome em oposição ao presidente da situação, já aqui no Brasil, a eleição de 2018 e 2020 demonstraram uma desarticulação e carência por protagonismo/espaço político, que fizeram, ao menos com que a esquerda não chegasse a consensos quanto ao cenário mais viável para ganhar uma eleição.

Os protestos recentes, ocorridos em mais de 21 estados brasileiros, apesar de gozarem do apoio midiático de uma imprensa em grande parte opositora ao atual governo, além de terem se revelado com pouca adesão, mostrou que as oposições de esquerda e de direita não dialogam, afinal suas agendas politico ideológicas são opostas, só tendo o pedido de saída do presidente como ponto em comum, mas em nenhum desses “lados do mesmo lado” percebe-se a canalização de forças ao redor de um nome com expressividade para se contrapor a Bolsonaro em 2022.

Podemos dizer que os protestos não têm chegado ao Brasil mais profundo, da massa, que a “oposição de direita” não consegue captar o eleitorado que criou para Bolsonaro, que a esquerda ainda sofre para fazer de suas pautas algo popular e de fácil penetração social/eleitoral, bem como não constrói pontes com eleitores que perdeu ao manter discursos rotuladores por vezes agressivos contra alvos errados (eleitores), não temos ainda um cenário de impeachment, os problemas nacionais se agravam, razões pelas quais podemos dizer que “os lados do mesmo lado” ainda não encontraram o tom certo de ser oposição.  

Caio Sousa
Advogado, Professor Universitário, Mestre em Ciências Jurídico Políticas pela Universidade de Lisboa.

Foto: MBL

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