A violência de gênero é um fenômeno estrutural que se manifesta em diversas formas, incluindo agressão física, psicológica, sexual e econômica contra mulheres e meninas. Segundo a ONU Mulheres (2023), cerca de uma em cada três mulheres no mundo já sofreu algum tipo de violência de gênero. Nesse contexto, a educação tem um papel fundamental na prevenção e no enfrentamento desse problema, promovendo valores de igualdade, respeito e autonomia.
O Papel da escola na prevenção da Violência de Gênero
A escola é um espaço privilegiado para a formação cidadã e pode contribuir significativamente para a desconstrução de estereótipos de gênero. Isso ocorre porque o ambiente escolar é um dos primeiros espaços sociais que as crianças e adolescentes frequentam fora do núcleo familiar, onde entram em contato com diferentes realidades, culturas e vivências. Para Paulo Freire (1987), a educação deve ser libertadora, permitindo que os indivíduos questionem e transformem a realidade social. Dessa forma, a escola deve incentivar o pensamento crítico sobre as normas de gênero impostas pela sociedade e proporcionar espaços de debate para que os alunos possam refletir sobre desigualdades e opressões.
Ademais, um currículo escolar que promova a equidade de gênero deve abordar temas como história das mulheres, feminismo, legislação sobre direitos femininos e combate à violência de gênero. Essa abordagem favorece a compreensão crítica das estruturas que perpetuam desigualdades e incentiva os estudantes a se tornarem agentes de transformação social. Assim, uma educação voltada para a igualdade de gênero não apenas informa, mas também empodera meninas e meninos para reconhecer e combater situações de violência e discriminação, promovendo uma cultura de respeito e inclusão dentro e fora do ambiente escolar.
Algumas estratégias para combater a Violência de Gênero nas escolas:
• Currículo Escolar e Educação para a Igualdade de Gênero: A inclusão de conteúdos sobre gênero, direitos humanos e relações saudáveis no currículo escolar é essencial. Segundo Pierre Bourdieu (1999), a reprodução das desigualdades sociais ocorre através das instituições, incluindo a escola. Portanto, é necessário um ensino que questione padrões culturais machistas e incentive a equidade de gênero.
• Formação de Professores e Profissionais da Educação: Os educadores precisam estar capacitados para identificar situações de violência de gênero e agir de maneira adequada. Bell Hooks (2013) enfatiza a importância de um ensino engajado, em que os professores sejam agentes de mudança e não apenas transmissores de conteúdo.
• Campanhas de Conscientização e Diálogo Aberto: A realização de palestras, rodas de conversa e campanhas educativas pode ajudar a sensibilizar estudantes, familiares e profissionais sobre o tema. Segundo Judith Butler (1990), as normas de gênero são construídas socialmente, e o diálogo é uma ferramenta essencial para sua desconstrução.
• Criação de Espaços Seguros e Redes de Apoio: Escolas devem garantir ambientes seguros onde vítimas de violência de gênero possam buscar apoio. Isso inclui a presença de profissionais capacitados, como psicólogos e assistentes sociais, e parcerias com instituições que oferecem suporte especializado.
• Políticas de Prevenção e Denúncia: A implementação de protocolos para lidar com casos de violência é fundamental. Muitas vezes, a escola é o único espaço em que a vítima pode relatar situações de abuso, e os profissionais precisam estar preparados para agir de forma responsável e eficaz.
A erradicação da violência de gênero requer um compromisso coletivo e políticas educacionais eficazes. A escola, enquanto espaço de formação e transformação social, tem a responsabilidade de promover a equidade de gênero e preparar as novas gerações para construir uma sociedade mais justa e igualitária. Como afirma Simone de Beauvoir (1949), “não se nasce mulher, torna-se mulher”, e a educação pode ser a chave para garantir que todas as meninas se tornem mulheres livres, seguras e respeitadas.
A educação, portanto, deve ser entendida como um instrumento de emancipação e justiça social, capaz de desafiar e transformar estruturas opressivas. Para Nelson Mandela, “a educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo”. Dessa forma, investir em uma educação comprometida com a igualdade de gênero não é apenas uma necessidade, mas uma urgência para construirmos um futuro mais seguro e equitativo para todas as pessoas.
Nayara Sousa
Fundadora e Diretora do Centro de Ensino do Agreste. Pedagoga. Mestranda em Educação – Orlando/Florida-EUA. Especialista em Gestão de Pessoas. MBA em Gestão Empresarial. Enfermeira. Especialista em Saúde Pública e Vigilância Sanitária, Saúde da Mulher.