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EDITORIAL: Maduro e os atos de 08 de janeiro

Com honras de chefe de Estado, o presidente da Venezuela, Nicolas Maduro foi recebido ontem (29/05) pelo presidente Lula. A fala que mais chamou atenção foi a do presidente Lula, em coletiva de imprensa ao lado do líder venezuelano. O presidente brasileiro levantou a tese da narrativa mal contada sobre antidemocracia do regime “chavista” e que Maduro precisaria encontrar alguma forma de recontar essa narrativa.

Os gestos de Lula estão ligados ao objetivo do Brasil em tornar a América do Sul um bloco econômico mais sólido e competitivo em relação a outros blocos. Para encontrar a chamada coesão da Unasul, o Brasil precisa dialogar com regimes de governo que não possuem estabilidade democrática, mas colocar panos quentes sobre uma realidade geopolítica para agradar ditadores é um passo arriscado.

Quando um presidente democraticamente eleito reforça que a causa de uma ditadura como a da Venezuela é uma “narrativa”, Lula coloca em xeque o que de fato é uma democracia. Um governo em que não há alternância de poder, que persegue e mata os seus opositores políticos, que possui riquezas, mas a população morre de fome. Inclusive, Pernambuco abraçou esses refugiados e sabe muito bem o quanto a Venezuela está afetada pelo autoritarismo antidemocrático.

A ideia em questão não é só minha, Lula resgatou a diplomacia do Brasil, após desastroso isolamento do Brasil em relação ao mundo, no governo Bolsonaro. Mas gestos como esse com a Venezuela podem tencionar as relações com países estratégicos para a economia brasileira. Fazer vista grossa para as ditaduras do mundo é uma falha do governo brasileiro.

O posicionamento nas redes sociais da deputada federal, Tabata Amaral (PSB-SP), deputada da base do governo Lula, reflete a falha do governo federal em relação à diplomacia com um ditador. De centro-esquerda, a deputada acerta em não concordar com os radicalismos de esquerda e direita. O vídeo foi postado ontem, no mesmo dia da visita do presidente venezuelano.

O que está em questão não é a capacidade de diálogo do governo brasileiro. Depois do episódio do dia 08 de janeiro, intitulado por todos, inclusive pelo governo federal, como “Atos Antidemocráticos” e fazer vista grossa para a ditadura do presidente Maduro é ter dois pesos e duas medidas. Reconhecemos que é necessário dialogar com todos, afinal democracia é isso, mas esse diálogo precisa respeitar a égide da democracia que embasa as relações da República, reconhecendo que Maduro representa uma antidemocracia, assim como os atos bolsonaristas do dia 08 de janeiro de 2023.

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

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