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ARTIGO: Dia Internacional da Mulher e as perguntas que toda mulher já ouviu…

Ainda é muito cedo e os primeiros raios de sol surgem na minha sala. Penso. Hoje é o nosso dia. Dia Internacional da Mulher. Na rotina, nada mudou, filho para o colégio, organização da alimentação da família, uniforme pronto e a correria de sempre. E mesmo hoje, certamente, a Delegacia aonde trabalho vai estar lotada de mulheres e meninas violentadas.

Aí eu penso nas perguntas que todos os dias escuto e que também viraram minha rotina…No entanto, é nas respostas a elas que encontro minha motivação.

 Lembrei-me de que hoje é o dia de ouvir pelo menos umas dez vezes:  “-E precisa mesmo de um dia da mulher?”  “-E o dia da mulher não é todo dia não?” “-Os outros dias são dos homens, né?”

Acredito que todas as mulheres já ouviram essas perguntas em tom de deboche ou jocoso. Para mim, esses questionamentos se somam a outros tantos que escuto todos os dias: “- E essa Lei Maria da Penha funciona mesmo?” “-Se a mulher denunciar vai adiantar alguma coisa?” “-Porque não tem a Lei ‘João da Penha’?”

E nesse verdadeiro interrogatório, de forma velada e intencional está o machismo que machuca, que mata, que faz, nós mulheres, acreditarmos que não somos capazes, que existe uma linha imaginária que nos limita e a qual não podemos ultrapassar.

Quer saber? Simmm!!! Precisamos ainda de um dia INTERNACIONAL da Mulher, e é internacional porque a violência de gênero não é restrita a alguns países, mas ela é tão grave, tão latente que está espraiada por todo mundo, em todos os lugares, de modo que precisa ser combatida diuturnamente e, em um dia específico, o mundo todo ainda precisa pensar e se debruçar sobre o tema, também levar informação que liberta e salva vidas.

Simmmm! Ainda precisamos de um dia só nosso, porque durante os outros 364 dias (e no dia de hoje também) recebo mulheres, espancadas covardemente, crianças chorando e assustadas, famílias destruídas, por aqueles que não conseguiram sequer parar um segundo para refletir sobre o respeito a dignidade humana da mulher, muito menos aceitar que tenhamos um dia inteiro dedicado a nós, mulheres.

E para as outras perguntas eu também respondo simmmmm!!! A Lei Maria da Penha funciona sim! Denunciar adianta sim e muito!!! Quem insiste em dizer o contrário, ou desconhece a rotina (e sempre ela) de uma Delegacia da Mulher, ou quer desmotivar, desencorajar mulheres a romper com o ciclo de violência.

Pois eu lhes digo, em 21 anos de graduação em Direito e em quase 22 anos de polícia, eu desconheço uma Lei com maior efetividade que a Lei Maria da Penha. No âmbito penal, ela possibilita o afastamento do agressor, sob pena de prisão sem direito a fiança, a chamada Medida Protetiva, possibilita a mulher entrar em casa assegurada por policiais para fazer a retirada de seus pertences, retira arma de fogo, ainda que regularizada, daquele que comete violência doméstica e familiar contra mulher, isso apenas para exemplificar.

No entanto, perguntas como essas buscam ter em nós o mesmo efeito daquelas frases que passamos a vida toda escutando: que não podemos, que não somos capazes, que alguns lugares não são pra nós. Quem nunca escutou a música que dizia que Tereza levou uma queda e foi ao chão e a acudiu três cavalheiros, o primeiro seu pai, segundo seu irmão…

Eu reafirmo, mulheres, Tereza não precisa, Tereza é capaz de se levantar sozinha, se reerguer e se reconstruir em paz e fortalecida. Para tudo isso só precisamos de coragem e força e isso, mesmo sem saber, nós temos de sobra.

Portanto, se alguém lhe perguntar se precisamos do dia de hoje, ainda precisamos sim, se não por mim, mas por todas as outras que ainda necessitam acreditar na força que tem, de modo a serem capazes de se erguer sozinha. Aí sim, quando todas de pé, ombreadas em igualdade pelos homens e respeitadas em sua humanidade, não precisaremos mais desse dia, porque teremos verdadeiramente todos os outros em paz.

Feliz Nosso Dia, Mulheres, e feliz sejam todos os outros também.

Amanda Lira
Mãe, Comissária de Polícia Civil; Coordenadora Setorial da Delegacia da Mulher de Caruaru; Graduada em Direito; Pos-graduada em Gestão em Segurança Pública.

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