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A terceira via virou à esquerda?

A cerca de duas semanas escrevei um texto para minha coluna aqui no blog falando um pouco sobre como as eleições desse ano seriam ímpares. No texto me prendi a falar sobre as novas dinâmicas dos apoios aos governos estaduais e a presidência da república, algo que, à época, muito me surpreendeu. Especificamente sobre isso, falei que alguns estados podem ter mais de uma candidatura ao governado do estado sendo apoiada por um mesmo presidenciável, algo incomum.

Nessa semana, tudo indica que o cenário mudou de maneira curiosa. Há duas semanas atrás o que se via, principalmente da esquerda, era um horizonte fragmentado, principalmente em se tratando dos governos estaduais, agora, no entanto, há outras manobras em curso. Em uma entrevista concedida a jornalista Malu Gaspar, Fernando Haddad afirmou categoricamente que era imprescindível para eleição desse ano alianças sólidas entre as diferentes alas da esquerda, algo que, à época (a entrevista é de dezembro de 2021) ainda era tido, em certa medida, como devaneios de um idealista progressista. Agora não mais.

Pelo caminhar da carruagem, a esquerda brasileira tem conseguido construir uma frente ampla que tem tido fôlego para transpor algumas barreiras do caminho. Não é novidade que ao longo dos últimos anos o Brasil tem se tornado um país cada vez mais polarizado, dificultando a aglutinação em grandes conglomerados políticos/partidários. Seguindo essa linha de raciocínio, o natural seria haver mais de uma candidatura da esquerda, tanto para presidência como para os governos estaduais. Nesse ponto, assenta a novidade. Tudo indica que a divisão tem perdido espaço para a união.

Em São Paulo o Psol declinou na candidatura de Guilherme Boulos ao governo do estado (agora candidato a Deputado Federal) em favor de Fernando Haddad. Em minas o PT deve abrir mão de candidatura própria para apoiar Alexandre Kalil (PSD) ao governo do estado. Já no Amazonas o PT deve lançar par ao governo o ex-senador João Pedro, e, ao mesmo tempo, abrir mão da vaga do senado em favor da reeleição de Omar Aziz (PSD). No Ceará o PT deve abrir de candidatura ao governo para beneficiar uma candidatura do PDT. Em Pernambuco, apesar dos desencontros, tudo indica que o PT consolidará seu apoio a Danilo Cabral (PSB), após declinar com a candidatura de Humberto Costa ao governo estadual (Quanto a Pernambuco, o cenário tem mudado com as novas questões envolvendo Marília Arraes).

O ponto é: Diferente de 2018, quando o cenário estava rachado e amplamente pulverizado, 2022, pelo menos à esquerda, está se dirigindo para uma posição mais una e menos dividida, com cada legenda fazendo seus sacrifícios e alianças em busca de candidaturas competitivas, não somente a governador, mas, sobretudo, para presidente. Nesse ponto, o próprio Lula tem sido sagas na construção dessa frente ampla, que envolve sua própria candidatura à presidência, mas também os governos estaduais e a criação da federação partidária entre PT, PC do B e PV. De fato, nos estados há uma união em favor dos candidatos e partidos da esquerda de acordo com o cenário estadual, no entanto, já para presidente, tudo indica que o ex-presidente Lula está se cristalizando como o candidato da esquerda para o palácio do planalto. Um fato que, para a terceira via e todos os candidatos mais à direita, soa como um verdadeiro toque de recolher.

Nesse cenário, muito ainda é dito sobre a terceira via, no entanto, pelo alinhamento dos astros da política, o PT tem sido hábil em construir alianças com as mais diversas alas da esquerda e até mesmo do centro e da centro-direita, sufocando cada vez mais as possiblidades uma terceira via. Pelos indicadores, a terceira via está estagnada e dividida. Com candidatos os mais diversos possíveis, esse grupo está preso a um único dígito, por candidato, nas pesquisas de intenção de voto.  Sem perspectiva de que ninguém nesse grupo largue o osso em prol dos outros, veremos esse grupo arquejar e padecer do mesmo mal que a esquerda sofreu em 2018: desunião e falta de estratégia. Tabet não decola, Doria sofre com os conflitos internos do PSDB, Moro e Ciro, as duas principais apostas, estagnaram e os outros tem porcentagens pífias.

Pelo que tudo indica, Fernando Haddad, diferente da terceira via, está conseguindo provar que suas palavras e ideias eram mais do que idealismo bonitos de emoldurar e colocar na parede. Pelo jeito, a terceira via, alternativa para além do binômio Lula-Bolsonaro virou à esquerda. Martelo batido? Jamais. A política está sempre em movimento.

Pedro Henrique Lima
Graduando em Direito, Pesquisador do LABÔ (PUC-SP) e Estudioso da Democracia.

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