Quando pensamos em uma calçada, o que vem a sua cabeça?
Dependendo de por onde estamos passando ou do que nos lembramos, o termo pode nos remeter a algo agradável ou que nos afugenta.
A calçada é, sem dúvida, uma estrutura, a meu ver, mais importante na mobilidade urbana. É o “primeiro degrau”, a “porta de entrada” das pessoas no ambiente público, depois de saírem do ambiente privado e, em alguns casos, passarem pelos espaços de transição (que são os pequenos jardins em frente às casas).
Podemos destacar que, assim como as ruas, as calçadas em uma cidade são seus órgãos vitais, que trazem vida com a circulação das pessoas, promovendo a interação social, econômica e cultural no ambiente urbano. É de fato um ambiente democrático.
Por isso, para ser convidativa ao seu uso, ela deve ter características estruturais que permitam uma boa circulação, um piso adequado, uma boa largura. Ao longo dos anos, todavia, os planos diretores têm sido omissos quanto ao tamanho desse espaço, sendo raras as exceções. Na melhor das hipóteses tem-se melhorado em alguns casos.
Calçadas devem ter 2,5m a 3m ou, no mínimo, 1,2m de passeio livre, não esquecendo a acessibilidade universal. A melhor referencia para uma boa calçada sempre será a pessoa com deficiência: se é boa para ela, é boa para todos. Quanto à arborização urbana, os benefícios de uma árvore no ambiente urbano são do conhecimento de todos, mas destaco o conforto termítico que ela propicia nesse espaço.
Serviços precisam ser bem localizados. Já prestou atenção que algumas placas de sinalização, lixeiras e postes são posicionados bem no meio da calçada? Isso não é adequado, existe uma norma para sua colocação.
Iluminação é outro fator que não pode passar despercebido. Geralmente o foco da iluminação pública é a rua, justamente o local onde os veículos já têm iluminação para trafegar, pois seus faróis permitem isso. O melhor, sem duvida, seria iluminar a calçada, o que, além de proporcionar sensação de segurança, evita acidentes decorrentes de eventuais irregularidades.
Bem, o que descrevi até agora foi o melhor vislumbre para uma calçada próxima do ideal. Porém, conforme relatei, as cidades desprezaram isso em seus projetos. “Cresceram” sem esse ordenamento urbano, daí termos hoje um desafio relacionado ao que fazer para melhorar o que já está feito, eliminando calçadas estreitas, rampas, buracos, etc.
Com o advento da pandemia do covid-19, percebeu-se que as cidades em sua grande maioria não estavam prontas para prover o mínimo de segurança sanitária aos seus munícipes, com relação ao distanciamento social, por exemplo.
Uma das alternativas para agilizar a democratização do espaço público perdido ao longo do tempo para os veículos motorizados foi empreender ações com urbanismos tático*, tinta e boa vontade, com vistas a transformar esses espaços.
O movimento ganha força em um contexto de crise nas áreas urbanas, no qual os governos enfrentam dificuldades para entregar a uma população crescente serviços urbanos básicos, como habitação e transporte de qualidade. Ao conferir novos sentidos para os lugares a partir de mudanças rápidas, reversíveis e de baixo custo, o urbanismo tático cria cidades mais amigáveis aos moradores e, muitas vezes, motiva as pessoas a repensarem seus hábitos por meio dos diferentes encontros e trocas que esses espaços possibilitam.
Os projetos em geral têm como objetivo a readequação do espaço viário e/ou a valorização dos espaços públicos, mas mudam conforme as necessidades de cada local. Em determinada rua, por exemplo, a principal necessidade pode ser calçadas mais amplas. Em outra área, o ponto crítico pode ser um cruzamento no qual os pedestres necessitam de mais segurança para fazer a travessia.” (WRI Brasil)
Parece algo que não tem jeito, mas é possível, sim, “corrigir” determinados erros e fazer adaptações dentro de uma realidade local. Não se esquecendo, é claro, que os novos projetos de circulação urbana devem contemplar não só as vias, mas também as nossas calçadas.
Acompanhe nossa coluna aqui no https://blognovocontexto.com.br. Vamos semanalmente trazer um tema correlato a mobilidade urbana e sustentabilidade.
Eu sou Ricardo Henrique, especialista em gestão de mobilidade urbana e sustentabilidade e CEO e idealizador do Mobilicei e estou à disposição para, junto com você, fomentar a boa mobilidade!
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Abração!
*Sobre o urbanismo tático: “Pode ser um parklet, uma mini praça, uma pintura no chão para mudar o desenho de uma rua. Cidades em diversas partes do mundo – e, também, aqui no Brasil – estão partindo de intervenções temporárias para catalisar projetos de longo prazo que melhorem a segurança viária e ajudem a criar espaços públicos de qualidade. A técnica, chamada de “urbanismo tático” (do inglês tactical urbanism), promove a reapropriação do espaço urbano por seus principais usuários: as pessoas.