Johnatan da Silva tinha 15 anos e todos os dias ao levantar dava de cara com sua imensa timidez. No 1º ano do ensino médio, isolado, convivia com problemas de socialização junto aos colegas. No início dos anos 2000, este era um problema grave que precisava ser superado. Vivia calado, fechado para o mundo; falar em público era impossível. Morador da Vila da Fábrica, município de Camaragibe (Região Metropolitana do Recife), Johnatan matriculou-se na turma da Banda Marcial da escola estadual Torquato de Castro, onde estudava como aprendiz de trombone de vara. Um década depois, viu o quase inacreditável: brilhou como regente da mesma banda. Ele é a prova da eficiência de uma política pública social, aqui medida pelas centenas de vidas transformadas. A Banda Marcial da escola estadual Torquato de Castro sagrou-se campeã da Copa Pernambucana 2020 na categoria infanto-juvenil, em uma das maiores competições do Brasil. “O que mudou na minha vida desde a banda?. Tudo”, contou, com sorriso largo.
O menino tímido tem agora 25 anos, fez da arte profissão, é professor, cursa graduação de música e atua junto a jovens em projetos de políticas de prevenção às drogas em escolas diferentes, algumas como voluntário e inspiração para dezenas de meninos. Nesta quinta-feira, Johnatan falava sobre o impacto da Copa na vida de tantos meninos e tecia elogios à ação do candidato a governador Danilo Cabral (PSB). Como secretário de Educação do Estado, em 2009 Danilo não só liderou a criação da competição na gestão do então governador Eduardo Campos como fomentou a criação de novas bandas. Unindo educação e cultura, Danilo promoveu cursos, capacitações e oficinas técnicas. Hoje são mais de 400 bandas e 24 mil alunos integrados em bandas e fanfarras no estado.
O maestro Johnatan da Silva conta que, ao participarem das bandas, os meninos e meninas ficam menos vulneráveis socialmente, e ganham foco no estudo. Conforme a Associação de Bandas, Fanfarras e Regentes de Pernambuco (Abanfare), os estudantes desenvolvem ainda senso de coletividade, ética, inovação, respeito e responsabilidade.
Outro maestro, Flávio Rodrigo, pode atestar como as transformações são profundas no caso de Pernambuco dos últimos anos, desde o apoio de Danilo. Menino agitado do bairro de San Martin (no Recife), Flávio até hoje lembra das longas conversas com o seu pai e sua mãe sobre disciplina e a participação na banda. “Eu era virado na adolescência. Quando eles falavam de castigo era sempre me dizendo que eu poderia sair da banda”, conta, orgulhoso pela formação que conquistou, desde que se encantou com a música aos 11 anos de idade no primeiro dia de aula do Ginásio Pernambucano e logo entrou para a banda do colégio. “Foi na cara e na coragem”, diz Flávio. Com 27 anos, distribui ensinamentos para outros jovens pernambucanos. Mais da metade deles foram dedicados à música.
Flávio foi discípulo de Waldenilson Cunha Costa, que dará nome à 14ª Copa Pernambucana de Bandas e Fanfarras, de 2022. O nome é uma homenagem pós-morte. Waldenilson faleceu aos 63 anos, vítima de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) em junho deste ano. Ele é um dos maiores incentivadores de bandas marciais e fanfarras no Brasil e ajudou a Danilo como secretário a colocar Pernambuco entre os destaques do cenário nacional de bandas marciais e fanfarras.
Foto: Arquivo Abanfare-PE