Há uma relação intrínseca entre o repente e o forró. Foi ouvindo o toque dos cantadores na viola que Luiz Gonzaga desenvolveu o baião. Ademais, há repentistas que se aventuram no forró, como João Lourenço e Adauto Ferreira, bem como há forrozeiros que também cantam repente, a exemplo de Amazan.
Em Caruaru, essa relação parece funcionar de forma ‘oficial’ no período junino. Começou há aproximadamente 20 anos, quando foi inaugurada a ‘Fazendinha’ na estrutura da festa. À época, o declamador Raudênio Lima comandava a programação, incluindo cantadores, declamadores, aboiadores, coquistas e personagens folclóricos que transitavam pelo espaço. Ainda no mesmo período, acontecia um festival de repentistas no palco principal do Pátio de Eventos, onde desfilavam grandes nomes do improviso.
Com o passar do tempo, a ‘Fazendinha’ tornou-se ‘Polo do Repente’. Perdeu um pouco do aspecto lúdico inicial, mas manteve o objetivo de abrir espaço para tais artistas. Nem sempre a estrutura foi a mais adequada, mas sabemos que pedras surgem pelo caminho. O lado positivo é que, mesmo mudando os gestores, o município continuou com a proposta. Campina Grande, por exemplo, seguiu por uma estrada oposta e hoje não se ouve sequer um acorde de viola nos festejos juninos daquela cidade da Paraíba.
Neste ano, o Polo do Repente conta com uma vasta programação e algumas surpresas. Uma delas foi o garoto Thulio Fontinele, de apenas 12 anos, que já desponta nos palcos da cantoria, que “deu uma palhinha” na sexta-feira 17. Um dia antes, aconteceu o Festival de Poetas de Feira, com nomes como Antonio da Cruz e Luiz de Carminha, entre outros. Já no próximo dia 25, haverá o Festival Vida e Viola, celebrando 60 anos de aniversário e 40 anos de profissão de Rogério Meneses, com a elite da cantoria de viola. Que esse exemplo de boa gestão possa se espraiar por outras áreas, engrandecendo ainda mais a Capital do Agreste.
Coluna assinada por Jénerson Alves
Jornalista, professor, especialista em Ensino de Língua Portuguesa e Suas Literaturas. É assessor parlamentar e integrante da Academia Caruaruense de Literatura de Cordel.
