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Estou a ponto de vomitar-te: O Brasil e sua política de isenção

“Assim, porque és morno e nem és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca” (Apocalipse 3:16)

Em meio a um cenário internacional caótico, proveniente do conflito Ucrânia x Rússia, talvez seja essa a frase que defina com maestria em que pé se encontra a política externa brasileira: Em cima do muro. Historicamente o Brasil sempre foi reconhecido pela qualidade de sua diplomacia, principalmente, em sua maneira de conduzir uma política externa apaziguadora. De qualquer forma, estar em cima do muro nunca foi uma postura de nosso país, pelo menos não até agora.

Desde o início do conflito entre Ucrânia e Rússia, o Brasil ainda não se posicionou de maneira contundente a respeito, um infortúnio, certamente. Apesar disso, cabe a nós, nesse momento, tecer uma análise mais aprofundada das possíveis causas de tamanho imbróglio. Em primeiro lugar, deve ficar claro que a partir da gestão Bolsonaro (2019-2022), a política externa dos diplomatas de carreira deu lugar a uma diplomacia ideológica, lastreadas por teses antiglobalistas e anticomunismo.

É certo que o governo Bolsonaro é marcado por declarações polêmicas. “Comunavirus”, vachina”, “tecno-totalitarismo” chinês ou até mesmo discussões sobre como a china teria inventado o vírus da covid-19 para promover uma guerra biológica, sem mencionar o apoio e admiração, manifestada em viagem diplomáticas, por líderes iliberais como Donald Trump e Viktor Orban. No governo Bolsonaro, o que não faltam, são questões ideológicas que se sobrepõe a realidade fática. Nenhuma surpresa. Nesse raciocínio, o “estar em cima” do muro, assim como tudo no governo atual, não passa de mais uma questão ideológica.

Frente a uma base bolsonarista enfraquecida, se comparada com 2018, ainda é difícil saber se vale a pena ou não repudiar o governo russo pela guerra na Ucrânia. Mas aqui emerge uma dúvida: Não seria obvio tomar uma posição parecida com a de seus pares internacionais, no sentido de censurar o governo russo? Como se sabe, quando o assunto é Bolsonarismo, nada é obvio.

Para explicar melhor, irei dividir o raciocínio em duas linhas distintas, mas secantes, que se bifurcam em uma abordagem ideológica e uma abordagem econômica. Na esfera econômica, é certo que o Brasil será afetado com o aumento do preso do barril do petróleo, do gás natural e do trigo, produtos os quais a Rússia é um dos principais produtores, no entanto, para além desses efeitos, comuns a todos os países, um, em particular, tende a ter reverberações mais direitas: Fertilizantes. Atualmente a Rússia é a responsável por fornecer 20% dos fertilizantes utilizados no Brasil, montante importantíssimo, principalmente em um cenário de recuperação econômica.

Mas agora vem à tona o seguinte questionamento: Seriam esses fatores suficientes para o Brasil não adotar uma postura rígida face aos ataques russos a soberania, a democracia e ao povo ucraniano?

A realidade é que mais importante que o aspecto econômico, é a esfera ideológica, afinal de contas é ela que define se ficaremos ou não em cima do muro. Não é surpresa que o atual presidente da república cultive certa admiração para com o presidente vitalício russo, no entanto, esse é um ponto controverso. O fato é que, com um xadrez eleitoral ainda em construção para as eleições desse ano, é difícil, para o bolsonarismo, criar algum posicionamento sobre a guerra na Ucrânia sem haver o risco de criar divisões e atritos “desnecessários”. Isso por que a Rússia é sim uma figura enigmática, na medida que, ao mesmo tempo que se apresenta como um país extremamente conservador, ainda muito resistente a modernidade do século XXI, um balsamo para o bolsonarismo, se coloca como um parceiro da china e de seu líder (Xi Jinping), além de ter integrado a antiga União Soviética, um entrave para o bolsonarismo.

Em um cenário como esse, o que se sobressai é o calculo eleitoral para 2022, não a diplomacia.

O ponto é: O Brasil está prestes a ser vomitado no cenário internacional por questões puramente internas, de cunho econômico, mas, sobretudo, eleitorais e ideológicas. Infelizmente, uma nação como o Brasil está em cima do muro, sem demonstrar o mínimo de empatia por uma nação que tem visto sua soberania, democracia e povo desrespeitados por um líder que somente preocupa-se com seus devaneios autoritários, por, nesse momento, ser capaz de somente olhar para si.

A realidade, é que o bolsonarismo preocupa-se somente com eleições e terreno conquistado, mesmo que isso venha a custar a reputação de um país, ao evidenciar sua falta de empatia e habilidade em lidar com situações internacionais complexas e delicadas. Termino esse texto com a mesma frase que comecei:

“Assim, porque és morno e nem és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca” (Apocalipse 3:16)

Pedro Henrique Lima
Graduando em Direito, Pesquisador do LABÔ (PUC-SP) e Estudioso da Democracia.

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