fbpx

Entre amigos fieis e colegas alugados, Bolsonaro escolhe os locados.

Em mais de três anos de governo uma coisa pode se afirmar categoricamente: não se sabe em que Jair Bolsonaro pensa, ou mesmo qual será sua próxima cartada. Muito diferente de políticos convencionais, o atual presidente da república é implacável em suas imprevisões, sendo tão aleatório e idiossincrático quanto quando colocamos o Spotify para tocar de maneira randômica.

Com um discurso antiestablishment (antipolítica) veementemente contrário a chamada velha política, o atual presidente foi alçado ao cargo de chefe máximo da nação, mas não somente isso. Jair Bolsonaro vocalizou em seu discurso novos personagens, até então, com pouco expressão em comparação ao que vemos atualmente. Bolsonaro, com seu discurso, albergou a voz daqueles eleitores profundamente insatisfeitos com a política, aqueles que tornaram-se radicais pelas decepções descortinadas pela Lava-Jata, aqueles cidadãos que adotaram para si o pensamento antipolítico. Assim vinha sendo o governo Bolsonaro, um barco de extrema direita, liberal e conservador, pelo menos, até agora.

Não é surpresa para ninguém que estude um pouco mais analiticamente nossa política que o Brasil, por ser multifacetado cultural, social e ideologicamente, apresentar uma grande gama de partidos e movimentos políticos das mais diversas vertentes. Com isso em mente, àquilo que Sergio Abranches denominou de presidencialismo de coalizão não é somente um verbete, mas sim um dogma em nossa política. No Brasil, discursos radicais e extremos, seja em qual espectro político seja, não subsistem, eles arquejam e padecem, afinal não é possível fazer política com base no confronto e aos berros.

O Brasil é o país da aliança, dos conchavos políticos e dos acordos. Acho que Bolsonaro entendeu. Após várias ameaças de impeachment, queda de popularidade, crise econômica, crises ministeriais e várias mortes por covid depois, o atual presidente começou a fazer conchavos com peças chave para sua governabilidade. Elegeu Arthur Lira (PP) como presidente da câmara, colocou uma raposa experiente para comandar a Casa Civil e loteou a esplanada dos ministérios como sempre rechaçou. Enfim, a hipocrisia, diria a internet.

Mas onde quero chegar com isso?

O Bolsonarismo raiz (termo referente aos apoiadores mais vívidos e fervorosos do presidente), desde o início se mostrou inabalável, algumas varrições nas porcentagens de pesquisas estatísticas, mas que, logo, se normalizavam. Ocorre, no entanto, que essa semana um fato curioso me chamou a atenção. A manchete era: “Em live, ex-ministros de Bolsonaro atacam aliança com Centrão”. A manchete era do Jornal Folha de São Paulo.

Pode parecer, à primeira vista, pífio tal matéria, afinal de contas, Ricardo Salles, Ernesto Araújo e Abraham Weintraub não seriam os primeiros e nem serão os últimos a ter desavenças com o Bolsonaro após suas saídas do governo. O ponto, no entanto, é que estamos falando de três grandes arautos das pautas bolsonaristas raiz. Weintraub (ex-ministro da educação) perseguiu as Universidades Federais por considera-las covis da esquerda, promovendo desmontes e contingenciamentos. Salles teve em seu mandato altíssimos índices de queimadas, fazendo pouco caso do pantanal ardendo em chamas e relativizando a conservação a Amazônia, além de ter sido acusado de estar envolvido no tráfico ilegal de madeira. Araújo, não menos importante, promoveu desavenças com a china e capitaneou verdadeiras cruzadas ideológicas com Deus, o mundo e pouco mais de gente.

Estamos aqui falando de parceiros que o presidente Jair Bolsonaro aplaudiu, apoiou e chamou para seu governo, personagens que não somente agradavam a base mais fiel e raiz do bolsonarismo mas que também protagonizaram por muito tempo como sustentáculos dessa base mais aguerrida. O que será daqui para frente? Vemos o presidente derreter nas pesquisas eleitorais e níveis elevados de impopularidade, além de presenciarmos agora antigos aliados se mostrarem, na verdade, como figuras dissidentes que, não necessariamente serão oposição, mas que, dificilmente, irão figurar como aliados daqui para frente.

Bolsonaro se rendeu aos seus novos amigos comprados, amigos do centrão que obedecem ao bom mestre desde que estejam abastecidos com bons nacos do orçamento secreto e emendas parlamentares. Será que valerá a pena? Bolsonaro terá um longo caminho até um possível segundo turno com o ex-presidente Lula e, uma coisa que em política é essencial são bons aliados.

Historicamente sabemos que o centrão é uma figura pouco confiável, àqueles que alugam sua amizade, para que não venham a padecer, não podem ser reféns dele, devem buscar construir um abrangente leque de aliados. O problema de Jair Bolsonaro, é que ele é como um monóculo, apenas enxerga um lado por vez. No início, somente dialogava com seus parceiros liberais, conservadores e antipolíticos, atualmente, somente conversa com aliados do centrão, resumindo seus parceiros ideológicos aos poucos que se reúnem nas grandes do Alvorada.

Conseguirá Jair decolar suficientemente alto para as eleições que o espera, principalmente sem soldados valiosos de primeira linha que ele mesmo descartou para cultivar seus novos laços centristas? O que será dessa odisseia? Cenas dos próximos capítulos.

Pedro Henrique Lima

Graduando em Direito, Pesquisador do LABÔ (PUC-SP) e Estudioso da Democracia.

1 comentário em “Entre amigos fieis e colegas alugados, Bolsonaro escolhe os locados.”

  1. Bolsonaro foi eleito por muitos que saíram da esquerda. É impossível esses eleitores voltarem pra esquerda. Jair,
    ao seu modo nada ortodoxo iniciou, e o Brasil experimentar a quebra da corrupção, que era disfarçada de bondade. É política não é o mesma o Brasil, as máscaras estão caindo. A população. Iniciou o entendimento que quem são os falsos políticos que dizem ser defensores do povo e não são, nem foram. A Conversa de palanque e de gabinete são totalmente e bastidores políticos, são totalmente diferentes. As vezes se consegue enganar por um tempo, mas nunca todo tempo. Deus é Soberano sobre tudo e os maus cairão, não permanecerão no poder.

    Responder

Deixe seu comentário