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O problema não é ser de (extrema)direta ou de (extrema)esquerda, o problema é não ser democrático

Os gregos costumavam compreender a política como o exercício contínuo de cada cidadão em praticar, em prol da comunidade, o bem comum, ou seja, o exercício da cidadania em um ambiente democrático deveria ser, sobretudo, uma forma de tornar a sociedade um lugar melhor para todos. Isso por que a democracia, modernamente, passou cada vez mais a ser uma ideia que permeia o ambiente político, como um fio condutor que busca criar em cada cidadão uma consciência de coletividade, um entendimento de como as coisas devem funcionar da melhor maneira dentro de um cenário plural e diverso.

Com as sociedades cada vez mais complexas, regadas por segmentos cada vez mais plurais, a democracia moldou-se, ao longo dos anos, a um novo normal, um normal múltiplo, variado, diversificado. No Brasil, a Nova República (período de 1988-presente), vem tendo que aprender diariamente com seus novos dilemas, a novos moldes de representação político/partidária, vem tendo que aprender a como resolver dilemas novos, vem tendo, sobretudo, que aprender, de maneira mais árdua, a como lidar com uma sociedade com pensamentos diversificados, desde pautas progressistas mais à esquerda até mesmo a pautas mais conservadoras à direita. Nesse panteão de fatos, reinventa-se, todos os dias, a democracia.

Em tempos funestos de polarização exacerbada, no qual existem Bolsonaristas mais radicais à direita e Petistas progressistas à esquerda, como poderia a democracia sobreviver sem sequelas a tamanha tensão política? Algo que aprendi lendo os grandes clássicos da política, é que uma democracia, para ser saudável, não deve pressupor a concordância, mas sim seu antônimo, ou seja, o dissenso. 

Diferente do que poderíamos ser levados a crer, uma democracia saudável não é aquela em que as pautas são unânimes e a concordância é a regra. Uma democracia em bom funcionamento é aquela em que os mais diversos segmentos, desde a direita mais liberal até a esquerda mais estadista, podem ter voz e vez no debate, mesmo que, ao final, não venham a concordar. Uma “democracia” sem dissenso, pautada somente pela concordância e unanimidade, não é democracia, é autoritarismo. Somente se pode discordar, se há debate e diálogo, sem essas duas variantes, só há concordância, afinal, como discordar sem ter a possibilidade de debater?

Em uma democracia, não há qualquer problema em ser de esquerda ou direita, na verdade, é aconselhado que exista essa guerra de ideias. O imbróglio, no entanto, está em não respeitar as regras do jogo e agredir as instituições. Não há problema em ser Bolsonarista, desde que se respeite o Congresso, o STF a divisão entre os poderes da república e, acima de tudo, seus os opositores políticos. Não há problema em ser progressista mais à esquerda, defender pautas ligadas a justiça social e a comunidade LGBTQI+, desde que haja respeito para com os conservadores que veem o mundo de forma diversa.

Em uma sociedade plural como o Brasil, a democracia do dissenso pressupõe pluralidade, e se isso não está presente em um ambiente, em teoria, democrático, o próprio conceito de democracia está esvaziado. Portanto, em meio a tamanha polarização e desrespeito entre polos/atores políticos diferentes, devemos, caro leitor, sempre lembrar que não precisamos concordar, mas sempre devemos respeitar e dialogar para que, dessa forma, a democracia possa se consolidar e todos possam ter a liberdade de pensar e se expressar, para assim construir uma sociedade melhor para todos, da esquerda à direita.

Pedro Henrique Lima 
Graduando em Direito, Pesquisador do LABÔ (PUC-SP) e Estudioso da Democracia.

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