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Bolsonaro filia-se ao Partido Liberal: O que isso significa?

De partidos nanicos que pudesse chamar de seu às siglas com grandes estruturas partidárias, a jornada do presidente Jair Bolsonaro para filiar-se a um novo partido para disputar às eleições de 2022 finalmente chegou ao fim, com sua filiação ao Partido Liberal (PL), nessa terça-feira (30). Após dois anos de sua saída do PSL, o naufrágio da embarcação Aliança pelo Brasil e menos alguns pontos de popularidade depois, a filiação do presidente Bolsonaro ao PL coroa sua aliança com o centrão mais fisiológico do congresso, ao mesmo tempo que deixa claro sua fragilidade diante do cenário eleitoral de 2022.

Diferente do ocorrido em 2018, quando integrava um partido nanico (PSL), dotado de um tempo de TV pífio e uma verba de campanha diminuta, o presidente não poderá contar somente com sua fiel militância digital, e muito menos esperar por uma reedição de toda a exposição que lhe foi dada em decorrência da fatídica facada em Juiz de Fora. O fato é que 2022 será experimental, e o que se espera é um ano marcado por mídias sociais sendo utilizadas como importante ferramenta de campanha, mas não somente isso. Junto a uma intensa movimentação no digital é esperado que haja campanhas organizadas por diretórios partidários estaduais, comícios e uma importante atuação dos candidatos em veículos de massa amplamente consolidados como a TV e o rádio.

Com isso, qualquer um que deseje realizar uma boa campanha para o Palácio do Planalto não somente precisará de uma boa campanha digital, será preciso, sobretudo, uma estrutura partidária consolidada e bem estruturada tanto no âmbito nacional, como estadual e municipal. Por isso, a escolha do Presidente da República por um partido fisiológico do centrão, ideologicamente maleável e com uma estrutura partidária consolidada que lhe entregue uma parcela razoável do fundão eleitoral e um bom tempo de TV, acaba por ser a escolha mais lógica e acertada. No entanto, nem tudo são flores. Nesse caso, há dois fatores cruciais. Um de teor competitivo/eleitoral e outro de caráter ideológico.

Eleitoralmente, mesmo estando em um partido que lhe garanta certa estrutura partidária, há fatores exógenos que podem fazer dessa filiação ao PL algo pouco determinante para o pleito do ano que vem. Mesmo entanto filiado a uma sigla com um bom tempo de TV, boa parcela do fundão eleitoral e bem estruturado em todas as escalas da federação, deve ficar claro que outros dois adversários eleitorais, nesse sentido, podem ficar em pé de igualdade. O ex-presidente Lula, com toda a máquina petista, mesmo que enfraquecida, ainda lidera as pesquisas de intenção de voto, junto a uma estrutura partidária muito bem consolidada, um bom montante do fundão eleitoral e ainda com uma possível aliança com o Ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Do outro lado, como fato novo, temos Sergio Moro que, apesar de novo na disputa, filiou-se aos PATRIOTAS que mesmo não sendo uma das maiores siglas tem buscado alianças com partidos chave, como é o caso do União Brasil (fusão do PSL com o DEM), que nesse caso, tem potencial para alavancar qualquer candidato que venha apoiar, já que possui a maior porcentagem do fundão, além de uma complexa estrutura partidária.

Nesse caso, mesmo com a filiação ao PL, Bolsonaro pode ter diante de si duas figuras com potencial de o ultrapassarem na corrida eleitoral, levando em contas possiblidades de alianças e as questões partidárias. Agora temos, por outro lado, questões de caráter ideológico.

 É certo que a política não é constituída somente por questões técnicas é, sobretudo, uma guerra de narrativas e ideais. Eleito em 2018 por uma narrativa antissistema, contrária ao toma lá, dá cá e profundamente marcada pelo discurso anticorrupção, Bolsonaro poderá ver, com sua filiação ao PL, sua narrativa eleitoral se esvair por entre seus dedos no decorrer dos próximos meses. Isso porque, ao se filiar ao PL o presidente escancara seu pacto de sangue com um partido fisiológico do centrão, marcado pelo toma lá, dá cá, o qual possui como cabeça, Valdemar da Costa Neto, Ex-deputado condenado pelo escândalo do Mensalão. Além do mais, junto a sua aliança com o PP de Ciro Nogueira, atual Ministro da Casa Civil, ficará demasiadamente desgastante ao presidente construir, em 2022, uma retórica antissistema e anticorrupção. Isso porque, como Presidente da República, não há como se apresentar como antissistema, e muito anticorrupção, após diversos escândalos de corrupção envolvendo seus familiares e amigos, assim como casos dentro do próprio governo.

O ponto é que a filiação do presidente Bolsonaro ao PL o entrega não somente vantagens, mas também impasses, diante de um cenário complexo e incerto para o pleito de 2022.

Pedro Henrique Lima 
Graduando em Direito, Pesquisador do LABÔ (PUC-SP) e Estudioso da Democracia.

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