fbpx

Lázaro e os Criminosos da Política: queremos sangue?

Me permitam ser bem sarcástico e um pouco irônico neste texto, mas a nossa conjuntura política e os noticiários criminais me exigem reflexões que me levam a somar os últimos fatos numa mesma análise breve sobre tudo o que vem acontecendo em nosso cenário político criminal.

Bom, nesta última semana de julho de 2021 acompanhamos a caçada a Lázaro, um criminoso condenado por uma série de crimes e acusado de outros ainda mais bárbaros, como latrocínio, homicídio de famílias, estupro e etc, uma pessoa que de fato chamou atenção tanto por ter conseguido se esquivar da polícia por cerca de 20 dias, quanto pelo requinte de crueldade da forma como praticava seus crimes, o que gerou uma revolta, consternação, despertando em muitos a vontade de que ele fosse morto o quanto antes, por questões de paz, justiça ou ódio mesmo.

Não faço nenhum juízo sobre quem desejou ou festejou a morte de Lázaro, afinal, não estamos acostumados com esse clima de terror e as atrocidades das quais ele foi acusado, ocorre que, no meio dessa história, encontramos um ex-esposa, ex-sogra, conhecidos, que entrevistados ou ouvidos apontam que ele não era uma má pessoa, que ele não seria o responsável pelos crimes, no entanto, nada disso “interessa”, afinal, nossa sociedade queria sangue, e assim aconteceu.

Ocorre que, na política brasileira existem males que matam milhares, mas já nos acostumamos, existem condutas que sepultam pessoas, acontecem crimes que praticamente estupram diariamente nosso país, no entanto, nossa população, parece guardar parentesco com os criminosos da política, afinal, é difícil ouvir que um filho ou pai tenham cometido um crime, difícil acreditar que alguém que tanto ajudou pessoas possa ser tão prejudicial, e mesmo que tudo aponte para um crime, você com seu amor familiar pelo político acusado, mesmo vendo o sangue nas mãos, ainda o defende.

Ocorre que, corrupção mata, estrangula, tira água e comida, some com o oxigênio, desmata, amplia desigualdades, condena pessoas à criminalidade socialmente e hipocritamente reprovável, joga pessoas para situação de rua, corrupção se alimenta do show de sangue televisivo para relativizar a sangria diária de hospitais, comunidades e própria da invisibilidade social, corrupção até dialoga com as minorias como camuflagem de seus desvios, no entanto, é ocultada pelos belos feitos do marketing político e pelos Lázaros que surgem diariamente em nossos noticiários.

“Mas Caio, sempre existirá corrupção, já um Lázaro podemos logo resolver!”

Elementar, mas o grande problema não é existir o risco de uma conduta criminosa, sempre existirá homicidas na terra, assassinos e corruptos sempre existiram, risco maior existe em não ficarmos mais estarrecidos e revoltados quando o crime é praticado, e essa é a diferença de Lazaro para nossos criminosos políticos, afinal, ainda nos causa repulsa um estupro, um assassinato, afinal, são ações claras, fáceis de entender, já a corrupção é complexa, nem sempre se documenta ou assina recibo, é parte da nossa cultura egoísta, excludente, de exaltação de cargos e posições, de imposição de visões, de apadrinhamento pela via de cargos subordinados ao indivíduo e não ao interesse público , corrupção é caminho para queles que desejam se manter no poder pela via do dinheiro, revelando princípios que são gritados eleitoralmente, mas que não passam de palavras oportunamente usadas para o engano.

Acostumamos com a corrupção, pois somos por ela beneficiados direta ou indiretamente, não entendemos que o dinheiro público é público e para promoção do interesse público, e qualquer desvio ou uso indevido, represente mais uma pá de areia em sonhos, projetos e vidas, no entanto, nossa incompreensão e relativização desse tipo de crime é tamanha, que transforma seus oponentes em vilões, as testemunhas em acusados e os verdadeiros criminosos em vítimas do sistema que corruptamente eles lutam para manter.

Olho por olho, dente por dente? Depende de quem é o criminoso, o tipo de crime, a repercussão midiática, depende do quanto aquele “bandido” ajudou ou não pessoas, mesmo as roubando, e se for corrupção na política, aí depende do partido e do lado que você afirma estar, mas se o sangue não é o seu, nem dos seus, e se a tragédia não bate à sua porta, certamente pouco importa, o importante é que o sanguinário defenda politicamente as minhas bandeiras, dessa forma, eu me acostumo fácil, afinal, ele não é Lázaro.

Caio Sousa
Advogado, Professor Universitário, Mestre em Ciências Jurídico Políticas pela Universidade de Lisboa, Especialista em Direito Municipal, Pesquisados do grupo “Cidades Transparentes” do Laboô/PUC

Deixe seu comentário