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Política e a síndrome do BBB

Se tem uma coisa que brasileiro voltou a tomar gosto foi o BBB, afinal, com a pandemia tá todo mundo em casa no final da noite, sem poder socializar presencialmente e pensar em programações externas,  é um entretenimento bem pensado e projetado para prender o público, traz uma ou outra reflexão de ordem social, movimenta as redes sociais trazendo interatividade além do voto de eliminação, assegura momentos de fuga da realidade para quem tanto trabalha e só ouve falar de problemas e escândalos do país, mas principalmente escancara a predileção comportamental do espectador quanto aos personagens que lhe são apresentados.

Pois bem, mal o BBB já acabou, e partidos políticos começaram a “cortejar” participantes com grande popularidade e seus familiares, que com o programa também passaram a ganhar notoriedade. Ao ler essa notícia, você pode até argumentar: “esse povo do BBB não tem nada que se meter em política” ou “esses políticos só querem se aproveitar da fama dos BBBs pra juntar voto”.

Você pode ter alguma parcela de razão nessas frases, mas venhamos e convenhamos, a nossa política brasileira à anos que sofre com a “síndrome do BBB”, e não estou falando dos políticos, muito menos estou criticando o BBB, mas estou chamando atenção para o fato de que, nós brasileiros, não queremos nos aprofundar e problematizar a vida de ninguém que se apresenta na política, não, nós não queremos fazer uma varredura na vida de antigos e novos candidatos, o brasileiro espectador não gosta da ideia de que, pra pensar a política e o voto como tem que ser, seria necessário refletir, ler, debater, reformular compreensões, dialogar, entender o que é democracia, participação social, organização dos poderes e do Estado, não, nós não queremos isso, tudo isso é muito complicado, não nos entretém.

Ok, então se é pra votar e decidir, se é pra debater os problemas políticos e sociais, o brasileiro adora sim um “VT”, uma “cachorrada” e “personagens participantes”, afinal, nós não queremos pensar no gestor, no profissional que irá cuidar do dinheiro público, não, a “síndrome do BBB” na política,  faz com que no período eleitoral viremos torcidas no grande paredão eleitoral, onde cada torcida, amparada unicamente no que facilmente é apresentado, na captura de falas pela metade nas redes sociais, na construção de narrativas, nos mutirões de zap bom e zap fake, escolhemos os vilões, determinamos os mocinhos, e ainda nos apaixonamos por aqueles que em virtude de todos os seus desvios de caráter e jeito “safo” de levar a vida, remete muito ao brasileiro e sua raiz contraditória.

Sim, fazem músicas para os candidatos, poemas, equipes administram suas redes sociais, estranhamente alguns aparecem mais na TV que os outros, até com apoio do diretor, e duas coisas predominam no BBB político, ganha quem tem maior estrutura ($$$) ou maior notoriedade por algo que tenha falado, feito ou acontecido com esse participante, seja uma prisão “injusta”, uma facada, uma decepção popular com outros participantes, destacando que existem candidatos que só entram no jogo para fazer figuração e dividir votos, as verdadeiras “plantas”, além daqueles que nem agregam voto mas “tocam fogo no parquinho”, assumindo o tom mais agressivo de campanha que o coleguinha não pode ter, pois visa manter a boa relação com o público de fora da casa, “eleitores”, e o público de dentro , seus adversários e futuros aliados de segundo turno.

Nós adoramos ter personagens a defender, só os conhecemos pelos poucos meses ou dias de campanha em que eles são expostos para julgamento, ignoramos tudo o que fizeram de bom ou ruim no passado, afinal, eles não brotaram do chão, mas só agora podem se apresentar como candidatos, e no final, o público vota, são milhões, cada pessoa um voto, e ganha o personagem que passou mais verdade, autenticidade, humanidade e falou com as necessidades que cada eleitor possui, sejam elas materiais ou ideológicas, vence aquele cuja a exposição melhor agradou. Mas, e o preparo? E a visão política de fato daquela pessoa? Quais os benefícios pós paredão para a sociedade expectadora?

Escolheremos aquele que todos gostam mas que no final da história se mostra falso? Apoiaremos os que “pipocam” vacilam na hora dos debates? Votaremos em um candidato para não ter que conviver com o outro? O que fez mais barraco e agiu de forma antiética, mas é popular, merece nossa admiração? Não sei lhe responder, mas no final, é o público que vota, que se sente atraído por todo esse show da “síndrome do BBB” na política, e as questões mais relevante e sérias, NÃO IMPORTA!

Não me espanto de ver os verdadeiros “BBBs” sendo procurados para a política, afinal, são chamados para agradar o grande público, para arrastar os votos das mentes preguiçosas da vida real, que independente do preparo ou não desses personagens de reality show, votará sim pelo que é plasticamente apresentado também pelos políticos de carreira, que a cada dia mais se vêm obrigados a capturar “likes” e compartilhamentos de uma multidão que só quer se entreter e depois transferir responsabilidades afirmando que “o Brasil tá lascado”. Quando vamos mudar de programa e perceber que já estamos “No limite” disso tudo, tendo os personagens reciclados e espectadores acomodados na vida real, tratados pelos eleitos como verdadeiros “basculhos”.

Caio Sousa
Advogado, Professor Universitário de Ciência Política e Direito Constitucional. Mestre em Ciências Jurídico Políticas pela Universidade de Lisboa, Especialista em Direito Municipal, Pesquisador do Grupo “Cidades Transparentes” do Labô da PUC/SP.

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