Opressão e resistência. Eis que a sociedade, desde o princípio, julga a mulher.

Todas as pessoas acabam por ser julgadas intimamente pela sociedade, uns pelos outros, mas pra nós, mulheres, o julgamento aparenta ter uma acidez diferenciada, pois os julgamentos vão ainda além dos quais os homens têm com que se preocupar. No caso deles é comum a observância sobre a ausência de masculinidade, já inclinando o julgamento para uma comparação com o feminino. Já para as mulheres o foco está principalmente e na maioria das vezes no corpo e na vida íntima. Padrões de beleza que aprisionam a liberdade dos corpos das mulheres e que julgam até aquelas que se “encaixam” com perfeição nesses padrões.

Mas qual a raiz desse problema? Se observamos o contexto histórico, desde a antiguidade, povos da Grécia, Mesopotâmia e Roma já cultuavam a relação de posse do corpo feminino ao homem: reverenciando virgindade, aparência física e a fertilidade como moeda de valor da mulher. Ainda na Idade Média, o corpo da mulher foi forçadamente associado ao perigo e ao pecado, reprimindo comportamentos considerados como inadequados com a fogueira. Já na sociedade moderna e contemporânea o capitalismo coroa esses revestidos padrões de beleza e de conduta que citei anteriormente com a indústria de filmes, revistas e agora redes sociais, que cultuam padrões de juventude e magreza incentivando o consumismo de produtos que prometem milagres com os corpos e a suposta consequente adequação ou estado ideal para a vida das mulheres.

Então temos as interseccionalidades, a diversidade dos corpos femininos colocada como sendo uma questão de separação do que é bom ou do que é ruim: para os olhos dos homens principalmente. Nesses campos em rede os julgamentos são externados sem nenhum respeito e quase sem freios, culminando por aprisionar ainda mais as mulheres nesses padrões.

Movimentos que buscam a ruptura desses padrões muitas vezes são vistos com maus olhos, exatamente por trazerem luz para a liberdade dos corpos femininos.
Perguntar-se sobre: o que é bonito pra mim? Trabalhar de dentro para fora a auto estima de cada mulher, com auto percepção para ver beleza com outros olhos, em contraposição ao que foi forjada a vida inteira a crer: um padrão estabelecido por uma régua injusta, um muro que parece intransponível. Mas não o é.

Por outro lado, quando – por exemplo – perguntamos aos homens qual o medo deles ao andar numa rua escura a noite e eles verbalizam: assalto, violência urbana, patrimonial, sequer tem ideia de que as mulheres ao responder a mesma pergunta têm medo de terem seus corpos violados, da violência sexual, exatamente porque a sociedade não respeita os corpos dessas mulheres. E isso não é um assunto que distoa do discurso dos padrões, não. É exatamente pelo motivo da cultura onde os corpos femininos pertencem aos homens que se autoriza essa violência sexual, bem como a violência psicológica de criticar, julgar e apontar os corpos das mulheres.

A luta das mulheres por igualdade e reconhecimento perpassa também por essa esfera de respeito aos seus corpos. As mulheridades (assunto que por sua amplitude discorreremos em outro momento nesta coluna), a pluralidade de existências de mulheres e suas lutas, reconhecer as histórias de grandes mulheres que buscam esses direitos e continuar as suas batalhas até alcançar um futuro de respeito e reconhecimento das diferenças como sendo uma potência da mulher.

Nenhuma de nós, hoje, está livre dessa opressão e julgamento, portanto ingressar na resistência e celebrar juntas a diversidade do que somos é um dos caminhos para quebrar a força desta cultura imposta. Nossas pluralidades são o que nos tornam únicas! Sejamos Livres!

Por Luana Marabuco
Advogada; Pós-Graduada em Direito Público e Gestão de Pessoas; e Secretária da Mulher de Caruaru-PE.

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