Todo abril é sempre a mesma coisa: Caminhadas, eventos alusivos à inclusão dos autistas, entrevistas de especialistas na TV, rádios, portais de notícias,podcasts, todo mundo usa roupas ou acessórios com a cor azul ou com o quebra-cabeças colorido.

Sabemos que, no nosso país, lei acerca dos direitos dos autistas tem muitas, e, no âmbito dos poderes legislativos municipais, cada vez mais novos projetos são propostos com frequência, contudo a sua efetivação é que falta acontecer.
Na prática, o que vemos é que cuidadores têm que estar sempre lutando para conseguir garantir direitos básicos de seus filhos, como o acesso às terapias prescritas pelo médico, o direito ao profissional de apoio escolar. Outro perrengue que se enfrenta diariamente é para garantir o atendimento prioritário de seus filhos. A Lei nº 14.626/2023 garante que as pessoas com autismo têm direito ao atendimento prioritário (não preferencial, mas sim imediatamente após a conclusão do atendimento que estiver em andamento, antes de quaisquer outras pessoas, frise-se), tendo a CIPTEA sido criada para facilitar a identificação das pessoas com TEA.
Mas o que vemos nas filas de bancos, lotéricas ou até mesmo em filas de atendimentos de postos de saúde ou centro integrados de saúde são pessoas torcendo o nariz quando alguém pede o atendimento prioritário para seu filho autista ou, muitas vezes, fingindo não ver que ali tem um autista que tem direito ao atendimento prioritário.
Pior ainda, são os funcionários ou servidores públicos destes locais que não garantem o atendimento prioritário aos autistas e ainda fazem piadinha, dizendo que ali todos são preferenciais… Deveriam ser os primeiros a dar o exemplo de cidadania, assunto esse que aprendemos na escola, nos primeiros anos do ensino fundamental, mas que a maioria das pessoas ou não aprendeu ou esquece ao passar dos anos.
A legislação brasileira também prevê a inserção do autista no mercado de trabalho e a não discriminação, contudo, quantos autistas você conhece que estão trabalhando formalmente hoje? A realidade é que mais um ano se passou e o problema continua o mesmo: Carência de medicamentos, falta de inclusão no ambiente escolar, saúde precária (tanto na rede pública ou com relação aos planos de saúde) com terapias feitas com tempo inferior ao prescrito, ou até mesmo ausência de sessões terapêuticas por falta de profissionais ou por longa fila de espera para acesso ao serviço.

No que diz respeito ao convívio social, o preconceito, a falta de empatia e a desinformaçãosão grandes barreiras para que as pessoas com autismo possam conviver em sociedade com respeito e compreensão. Por incrível que pareça piadas ou falas capacitistas, menosprezando as condições ou características inerentes a cada autista ou do tipo “nem parece autista, você não tem cara de autista” ainda permeiam livremente na nossa sociedade, colocando os autistas numa subcategoria de ser humano, dificultando ainda mais a sua inserção em sociedade.
O que vemos é que muitas pessoas pouco se importam se o barulho que estão fazendo vai incomodar os autistas, se o aperto no ônibus vai desregular aquela criança com TEA que está indo para a escola ou se a conduta de seus filhos de fazerem bullying com a crianças autistas pode desencadear uma crise de ansiedade ou automutilação.
Outro dia ouvi uma pessoa dizer “cada um com seus problemas”, mas o que essa pessoa não sabe é que, os meus problemas podem refletir indiretamente na dificuldade que ela tem também de solucionar os problemas delas. Enquanto continuarmos assim como sociedade, teremos cada vez um aumento dos problemas sociais como fome, vícios, violência, adoecimentos psicossomáticos, corrupção, crises econômicas e sim, isso afeta a todos nós.
Cabe a você leitor, fazer a diferença para que em Abril de 2026 possamos estar celebrando conquistas com relação à efetivação dos tantos direitos das pessoas com Autismo.
Por Lorena Benitez
Paraguaia, Acadêmica de Direito, membra da Comissão de Direitos da Pessoa com Deficiência e da Comissão de Direitos Humanos da OAB Caruaru, Fundadora do Instituto Benitez Jones e Coordenadora do Orgulho Down de Caruaru.
Lore vc como sempre certeira em suas colocações, eu sempre falo que entra ano e sai ano, e mesmo que se criem leis e se aprovem, não vejo mudanças no ambiente escolar, saúde, terapêutico fornecidos pelo município, triste realidade para pais sem condições de se ter atendimento privado, pq o público falam bonito, mas não existe inclusão nem nas escolas, na saúde tbm mto menos, parabéns Lore por mais um momento de reflexão e verdade.