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A idade para governar

A questão da idade dos governantes vem sendo cada vez mais discutida, com propostas que buscam reequilibrar a política e questionamentos sobre os limites da juventude e da experiência no poder. No Brasil, o deputado Eros Biondini (PL-MG) apresentou uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que propõe reduzir de 35 para 30 anos a idade mínima para concorrer à Presidência e ao Senado. A medida segue a linha de uma proposta semelhante feita pela deputada Manuela D’Ávila (PCdoB-RS) em 2007, com o intuito de dar mais voz às novas gerações no cenário político. No entanto, essa discussão não é restrita ao Brasil. Em 2024, a candidatura à reeleição de Joe Biden nos Estados Unidos gerou uma nova reflexão sobre a capacidade de governar com o avanço da idade, especialmente após críticas sobre sua saúde e vigor para enfrentar os desafios do cargo de presidente aos 81 anos.

Por um lado, reduzir a idade mínima para cargos políticos de alta relevância pode ser uma tentativa legítima de democratizar a política e dar mais espaço aos jovens, frequentemente vistos como mais conectados às novas demandas e ao dinamismo social. Jovens governantes podem trazer inovação, novas perspectivas e maior disposição para implementar mudanças que respondam aos desafios contemporâneos. A política precisa de renovação para acompanhar um mundo em constante transformação, e a inclusão de novas gerações pode ser uma forma de garantir que as soluções também evoluam. No entanto, esse impulso pela juventude precisa ser ponderado com a exigência de experiência e preparo necessários para enfrentar as complexidades do cargo.

No caso de Joe Biden, a questão se tornou mais decisiva. Quando o então presidente dos EUA decidiu se candidatar à reeleição em 2024, ele enfrentou uma crescente dúvida pública sobre sua capacidade física e mental para seguir no cargo. Questionamentos sobre seu envelhecimento e as limitações que poderiam vir com a idade levaram a uma situação política delicada. Após intensos debates e pressões internas e externas, Biden tomou a decisão de renunciar à sua candidatura. Em seu lugar, a vice-presidente Kamala Harris foi escolhida como candidata oficial do Partido Democrata, mas, apesar de sua ascensão como a primeira mulher e primeira pessoa de ascendência asiática a concorrer à presidência, ela não conseguiu superar o desafio e acabou perdendo a eleição para Donald Trump, que retornou ao cargo após um período de ausência.

Essa situação coloca em evidência a complexidade do tema da idade no poder. A experiência, sem dúvida, é uma qualidade importante para qualquer governante, mas também é inegável que a saúde e a energia física são fatores cruciais para o bom desempenho de um líder, especialmente em momentos de crise. O desgaste físico e cognitivo, próprios do envelhecimento, podem impactar a capacidade de tomar decisões rápidas e eficazes. A vitória de Trump, em um cenário em que a liderança de Biden foi questionada, serve como um alerta sobre como a capacidade física e mental pode ser tão determinante quanto a experiência no contexto atual da política mundial.

Em minha opinião, a discussão sobre a idade dos governantes deve ir além da simples questão de números. A verdadeira medida de um líder está em sua competência, preparo e habilidade para lidar com os desafios do cargo. A política precisa de pessoas com capacidade de inovar, mas também com experiência suficiente para tomar decisões responsáveis. O equilíbrio entre a energia da juventude e a sabedoria da experiência é fundamental para garantir uma liderança eficaz e consciente. Portanto, mais do que se preocupar com a idade em si, devemos focar nas qualidades dos candidatos: seu compromisso com o bem-estar coletivo, sua capacidade de adaptação e, acima de tudo, sua preparação para enfrentar os desafios que o cargo exige.

Por Brenno Ribas
Advogado; Doutorando em Direito da Universidade de Alcalá; Mestre em Ciências Jurídico-Publicísticas pela Universidade Lusófona do Porto; Especialista em Direito Eleitoral pela PUC-MG; Especialista em Direito Constitucional pela Faculdade Única; Corregedor Auxiliar da OAB/PE; Professor Universitário do curso de Direito da UniFavip Wyden; Pesquisador/Autor jurídico.

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