Ariano Suassuna, certa vez, assim se dirigiu ao xilogravurista J. Borges: “Se a gravura fosse um reino, você seria o príncipe”. O intelectual, com essa metáfora, resumiu bem a importância do artista, que fez a cultura nordestina romper barreiras.
Nascido em Bezerros-PE, em 1935, teve os primeiros contatos com o cordel ainda na infância, mas foi na fase adulta que decidiu dedicar-se à arte. Com o apoio de Olegário Fernandes (que viria a ser o fundador do Museu do Cordel em Caruaru), Borges compôs seu primeiro folheto, intitulado ‘O Encontro de Dois Vaqueiros no Sertão de Petrolina’ – cuja capa foi produzida pelo Mestre Dila.
Depois de um tempo, J. Borges passou a confeccionar xilogravuras e, nos anos 1970 deu um salto criativo ao lançar gravuras dissociadas de folhetos. Algumas de suas ilustrações ganharam o mundo, chegando aos Estados Unidos e países europeus. Inclusive, seu trabalho integrou o calendário das Nações Unidas em 2002. E jornais como The New York Times aplaudiram-lhe a verve.
Mesmo com tanto sucesso, manteve-se acessível em sua terra. Quem visitasse o ateliê que leva seu nome, em Bezerros, iria encontrá-lo esbanjando simpatia.
Sua obra dialoga com a modernidade. É possível ver xilogravuras enfeitando quadros, xícaras, camisas e até capas de celular, o que aproxima as novas gerações da tradição.
Faleceu na manhã de 26 de julho de 2024. Seu legado seguirá vivo através da família e de tantos outros artistas que o têm como referência. O Príncipe da Gravura segue vivo no Reino da Eternidade.
Jénerson Alves
Professor e vice-presidente da Academia Caruaruense de Literatura de Cordel
Foto: Ed Machado/Folha de Pernambuco