Para começar a tratar de cultura aqui no Novo Contexto, nada melhor do que falar de resiliência. Seja em meio a um cenário de pandemia, que afeta produções e eventos culturais no Brasil; ou frente ao desmonte de políticas e programas culturais, em diferentes esferas de governo.
A questão é que arte e cultura não são controláveis, nem imutáveis ou passivas. Diante da proibição das aglomerações e do isolamento social, produções culturais em geral se tornaram o cano de escape essencial para todas as pessoas em busca de esperança em um período de incertezas. E se, nas horas de solidão e de notícias tristes, a população busca a cultura como sustento da alma, é isso que impulsiona produtores a se empenharem em tirar projetos do papel, através de meios de comunicação e plataformas digitais.
É através dessa luta, por exemplo, que se pressiona as esferas do governo para garantir recursos emergenciais. A Lei Aldir Blanc não é bondade, é uma iniciativa necessária para manter artistas, ações e espaços culturais. O anúncio do governo de Pernambuco de garantir auxilio emergencial a atrações artísticas de Carnaval não é favor, é a comprovação de que o governo deve chamar para si a responsabilidade de manter vivas as tradições culturais.
Também por meio dessa resiliência os setores da cultura precisam enxergar novos modelos de fazer cultura. A febre de lives em 2020 demonstrou que é viável transformar expressões culturais em infoprodutos, que podem ser consumidos por qualquer pessoa, de qualquer lugar, na palma da mão. Isso é pensar marketing cultural e novos modelos de negócios para a cultura – pense no RecBeat.
O discurso aqui não se trata de romantizar a luta da produção cultural para se adaptar ao azar e às dificuldades. Pelo contrário, é necessário evidenciar que fazer cultura em nosso país dá dor de cabeça, antes de proporcionar satisfação e contemplação. Mas, se o descaso de décadas com agentes culturais cobra um alto preço quando o caldo entorna, é também nesse momento que é possível pensar uma cena cultural imersiva, conectada, engajada e que apresente um ponto de virada diante da tempestade que se formou desde 2020. É a resiliência para alcançar novos caminhos de realizações culturais.
Bloco do Eu em Casa
O Carnaval de Pernambuco 2021 tirou o bloco da rua, devido às restrições do Coronavírus, mas promete invadir as casas dos foliões. Há diferentes opções de shows on-line para curtir durante o período. A live do Galo da Madrugada, por exemplo, gravada no dia 8 de fevereiro, no Forte de Cinco Pontas, será exibida na manhã de sábado (13). O Homem da Meia-Noite exibirá seu show às 23h do sábado. Já no domingo (14), pelo Rec-Beat, haverá o espetáculo da SpokFrevo Orquestra, direto do Marco Zero, no Recife. Também há lives anunciadas por prefeituras de outras cidades, como Limoeiro.
A Botija, O Beato e a Besta-fera
Produção feita na zona rural de Caruaru, o curta “A Botija, O Beato e a Besta-fera” se baseia nas tradicionais histórias de botijas e na literatura de cordel. O filme é dirigido e roteirizado por Túlio Beat, representante do segmento local do Audiovisual no Conselho Municipal de Cultura de Caruaru. O projeto foi viabilizado por meio de incentivo da Lei Aldir Blanc Lei Federal Nº 14.017/2020 e da Lei Estadual Nº 17.057/2020.
FOGO BRANCO
Marcada por uma pluralidade de vozes e um estilo neoregionalista, a banda Joana Francesa abre 2021 anunciando o clipe do single Fogo Branco, lançado ano passado. Feito em parceria com a Produtora Vertigo, sob direção de Renand Zovka, o clipe conta a história da personagem que, interpretada pela drag Milky, seduz e mata os homens das veredas sertanejas. O trabalho pode ser conferido no YouTube:
Johnny Pequeno
Jornalista, Produtor audiovisual e Diretor da @produtoravertigo
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